Resumo - Desenvolvimento da Sexualidade de Freud, Vygotsky e Piaget
Desenvolvimento da Sexualidade de Freud, Vygotsky e Piaget
As descobertas de Freud sobre a
sexualidade infantil provocaram espanto na sexualidade conservadora do final do
século XIX, pois nesta época a criança era vista como símbolo de pureza, um ser
assexuado. Ao longo dos anos, a sociedade vem, pouco a pouco, se familiarizando
e compreendendo as diferentes formas de expressão da sexualidade infantil. Sexualidade que evolui, com etapas de
desenvolvimento que Freud denominou de fase oral, anal, fálica, latência e
genital.
Encontramos pais que se espantam ao se defrontarem com filhos se masturbando, ou que explicam com meias verdades as clássicas perguntas infantis sobre a origem dos bebês. Sexualidade na criança nasce masculina-feminina, macha ou fêmea, futuramente que será homem ou mulher. Durante a infância ocorre desenvolvimento de jogos corporais aonde as crianças vão se descobrindo e amadurecendo.
Reconhecida como um instinto que as pessoas nascem expressando-se de formas distintas de acordo com as fases do desenvolvimento que são: fase oral; fase anal; fase fálica e período de latência.
Encontramos pais que se espantam ao se defrontarem com filhos se masturbando, ou que explicam com meias verdades as clássicas perguntas infantis sobre a origem dos bebês. Sexualidade na criança nasce masculina-feminina, macha ou fêmea, futuramente que será homem ou mulher. Durante a infância ocorre desenvolvimento de jogos corporais aonde as crianças vão se descobrindo e amadurecendo.
Reconhecida como um instinto que as pessoas nascem expressando-se de formas distintas de acordo com as fases do desenvolvimento que são: fase oral; fase anal; fase fálica e período de latência.
Fase Oral
Na fase oral de 0 a 1 ano
a região do corpo com maior prazer na
criança é a boca, onde entra em contato com o mundo. É por esta razão que a
criança pequena tende a levar tudo o que pega à boca. O principal objeto de
desejo nesta fase é o seio da mãe, que além de alimentar proporciona satisfação
ao bebê.
Fase Anal
Fase anal de 2 a 4 anos, período que a criança passa a adquirir controle dos esfíncteres - a zona de maior satisfação é a região do anus; descobre que pode controlar as fezes que sai de seu interior, oferecendo-o à mãe ora como um presente, ora como algo agressivo. É aí que a criança começa a ter noção de higiene; fases de birras.
Fase Fálica
Fase fálica de 4 a 6 anos
- a atenção da criança volta-se
para a região genital. Inicialmente a criança imagina que tanto os meninos quanto as meninas
possuem um pênis e defrontadas com as diferenças anatômicas entre os sexos, as
crianças criam as chamadas teorias sexuais infantis, imaginando que as meninas
não tem pênis porque este órgão lhe foi arrancado (complexo
de castração). É neste momento que a menina tem medo de perder o seu pênis. Surge aí o complexo de Édipo, em que o menino
apresenta atração pela mãe e se rivaliza com o pai, e na menina ocorre o
inverso.
Fase de Latência
Fase de latência de 6 a 11 anos.
Este período caracteriza-se pelo
deslocamento da libido da sexualidade para atividades socialmente aceitas,
ou seja, a criança passa a gastar sua energia em atividades sociais e
escolares.
Fase da Adolescência
Fase genital, a partir de 11 anos. Início da adolescência, há uma retomada dos impulsos sexuais, o adolescente passa a buscar, em pessoas fora de seu grupo familiar, um objeto de amor. Adolescência é um período de mudanças no qual o jovem tem que elaborar a perda da identidade infantil e dos pais da infância para que pouco a pouco possa assumir uma identidade adulta.
Fase
Oral
|
A
Boca é o primeiro objeto de ligação infantil, pela boca a criança explora o
mundo.
|
fase
Anal (1 a 3 anos) Fase Fálica
(3 a 6 anos)
|
Os
pais que utilizam elogios e recompensas para usar o banheiro no momento
oportuno incentivam resultados positivos e ajudam as crianças a se sentir
capazes e produtivas. Freud acreditava que experiências positivas durante
este estágio servem de base para que as pessoas tornem-se adultos
competentes, produtivos e criativos.
Na Fase fálica a criança começa a ter
interesse pelos órgãos genitais, cuja manipulação se torna frequente e
há uma preocupação com as diferenças sexuais entre meninos e meninas. Freud
também acreditava que os meninos começam a ver seus pais como rivais pelo
afeto da mãe. O complexo de Édipo descreve esses sentimentos de querer
possuir a mãe e o desejo de substituir o pai. No entanto, a criança também
teme ser punida pelo pai por estes sentimentos, um medo que Freud denominou
de angústia de castração.
|
Período
de Latência
|
A erotização corporal está sublimada
e toda a libido está projetada para fora do corpo da criança, em seu
desenvolvimento intelectual e social.
período de latência caracteriza-se pela canalização das energias sexuais para
o desenvolvimento social
( diminuição das atividades sexuais)por meio das sublimações e consiste em um
período intermediário entre a genitalidade infantil (fase fálica) e a adulta
(fase genital). Durante esta fase, o superego continua a se desenvolver,
enquanto as energias do id são suprimidas. As crianças desenvolvem
habilidades sociais, valores e relacionamentos com colegas e adultos fora da
família.
|
Fase
Genital
|
momento
em que o sujeito atingiu o pleno desenvolvimento do adulto normal, no qual as
adaptações biológicas e psicológicas foram realizadas. o sujeito
desenvolveu-se intelectual e socialmente, é capaz de amar, estabelecer um
vínculo afetivo.
|
Sobre a sexualidade,
assinale a alternativa correta:
Os adolescentes testam, questionam e tomam
como referência a percepção que têm da sexualidade de seus professores,
por vezes desenvolvendo fantasias, em busca de seus próprios parâmetros.
Para Piaget, a trajetória do
desenvolvimento intelectual, do pensamento sensório-motor às operações formais,
é acompanhada pelo desenvolvimento do indivíduo quanto:
à sociabilidade.
A teoria freudiana sobre a
sexualidade infantil foi formulada com base em:
memórias adultas.
O componente biológico da
sexualidade do ser humano é determinado:
na fecundação.
Sobre conceitos em sexualidade, marque a
resposta INCORRETA.
Os transgêneros são aqueles que se identificam com seu sexo biológico e
optam por não fazer nenhuma alteração física, podendo, por exemplo, se limitar
a usar as roupas do outro sexo.
Segundo a teoria da sexualidade descrita
por Freud em 1905, existe uma sexualidade infantil, cujas características são
nasce apoiada em uma função somática vital; é
auto-erótica; tem seu alvo sob o domínio de determinada zona erógena
O conceito de transtornos específicos do
desenvolvimento das habilidades escolares é diretamente comparável ao dos
transtornos específicos do desenvolvimento da
fala e linguagem.
Quanto à postura dos
educadores com relação ao trabalho da sexualidade na escola, assinale a
alternativa INCORRETA.
O professor conduz e orienta o debate e emite opiniões
pessoais.
Assinale a alternativa
correta. Sigmund Freud, na obra A psicopatologia da vida cotidiana (Zur
Psychopathologie des Alltagslebens), de 1901, aborda essencialmente os
seguintes temas:
Esquecimentos, lapsos e atos falhos.
Segundo Alberti (2009), os trabalhos psicanalíticos sobre a
adolescência admitem que, de modo geral, há uma _________________________ na
infância e que a adolescência introduz a ____________________. Assim, esses
trabalhos procuram seguir a trilha deixada por Freud, levantando a questão da puberdade
na adolescência, mas também raciocinam com base no modelo dos estados, como se
a sexualidade humana dependesse de um evolucionismo darwiniano.
sexualidade pré-genital / sexualidade genital.
Freud inaugurou uma
perspectiva sobre a sexualidade infantil irredutível à dimensão cronológica
presente na maioria das teorias evolucionistas sobre a criança. Segundo o pai
da psicanálise, o caráter infantil da sexualidade comparece na vida adulta. Em
sua origem, a sexualidade infantil está submetida à atuação das pulsões
parciais, ligada à diversidade das zonas erógenas, cuja disposição é descrita
como:
perverso-polimorfa;
Ao desenvolver a psicanálise, Freud teorizou sobre a
sexualidade e suas manifestações presentes desde a infância. Ele identificou
que o desenvolvimento da sexualidade ocorre em fases – oral, anal, fálica,
período de latência e fase genital, cujo conjunto irá refletir na formação da
sexualidade do adulto. Sobre essas fases, é correto afirmar:
A fase anal acontece por volta de um ano e meio a dois anos e
é a fase em que se inicia o controle dos esfíncteres. Urinar e evacuar geram
grande prazer às crianças.
O superego é uma das instâncias da personalidade que Freud
descreveu no quadro de sua segunda teoria do aparelho psíquico, sendo o seu papel
assimilável ao de um juiz ou censor inexorável. Por constituir-se através da
interiorização das exigências e interdições parentais, o superego é definido
classicamente como herdeiro:
do complexo de édipo;
“Sua majestade, o bebê” é a expressão encontrada por Freud
(1914) para designar o investimento libidinal dos pais sobre a criança na
formação de seu ego. Mais do que simplesmente uma fase evolutiva, corresponde a
uma estase da libido que nenhum investimento de objeto permite ultrapassar
completamente. Para tanto, Freud lança o conceito de
narcisismo.
Segundo Freud,
em face do paciente, o analista se depara com a
regra fundamental da análise: o paciente dizer o que sabe e o que não
sabe na associação livre.
Associação livre= Em psicanálise, o relato do paciente para o
analista de cada pensamento que lhe vem à cabeça.
Para Freud, os conteúdos do id
incluem configurações mentais que nunca se tornaram
conscientes, assim como o material que foi considerado inaceitável pela
consciência.
O ID refere-se à parte inacessível da personalidade.
Corresponde ao conceito inicial de inconsciente, apesar de também o ego e o
superego possuírem aspectos inconscientes. Além disso, o ID é o reservatório das pulsões ( tanto de
vida quanto de morte) , da energia libidinal.
É ele que satisfaz as exigências do EGO e do Superego,
fornecendo toda a energia para eles. Apesar de seus conteúdos serem quase todos
inconscientes, o ID tem o poder de agir na vida mental de um indivíduo.
Características
do ID: - Caótico e desorganizado: dessa maneira, não se pode
aplicar as leis lógicas do pensamento do ID. Essa condição permite que impulsos
conflitantes coexistam, sem que um anule ou diminua o outro. - Atemporal: essa
condição permite que fatos passados e presentes convivam juntamente sem
desvantagem de intensidade. - Orientação pelo princípio do prazer: por
não levar em conta a realidade, procura não considerar atrasos e adiamentos em
favor de reduzir a tensão e, pelo processo primário, buscar satisfação imediata
pelos atos reflexos e pelas fantasias.
Embora a primeira determinação do sexo seja de ordem
biológica, a sexualidade não pode ser vista como prática que se reduz ao ato
sexual.
A
sexualidade é vivida no âmbito individual, mas sua constituição nos sujeitos é
produzida a partir das normas e valores sociais. Somos seres sociais, nos
tornamos humanos nas relações que estabelecemos com a natureza e com os outros
homens e, por isto a sexualidade humana é expressão de condições sociais,
culturais e históricas nas quais os indivíduos estão inseridos. Por isto mesmo,
seu processo constitutivo é passível de ser questionado e transformado.
Neste
sentido a orientação sexual abrange “o desenvolvimento sexual compreendido
como: saúde reprodutiva, relações interpessoais, afetividade, imagem corporal,
auto-estima e relações de gênero. Enfoca as dimensões fisiológicas,
sociológicas, psicológicas e espirituais da sexualidade através do
desenvolvimento das áreas cognitiva, afetiva e comportamental incluindo as
habilidades para a comunicação eficaz e a tomada responsável de decisões. (SUPLICY
et al., 2004, p. 26)
Atualmente,
tornou-se ponto de concordância a necessidade de se trabalhar com a temática da
Orientação Sexual nos diversos espaços onde os jovens se encontram reunidos,
sendo a escola eleita como um dos espaços mais importantes para que tal prática
se concretize.
A
abordagem dos assuntos referentes à sexualidade adotada pela escola deve
diferenciar-se da abordagem assistemática realizada pela família. Se por um
lado, os pais exercem legitimamente o seu papel aos transmitirem seus valores
particulares aos filhos, por outro lado, o papel da escola é o de ampliar esse
conhecimento em direção à diversidade de valores existentes na sociedade, para
que o aluno possa, ao discuti-los, opinar sobre o que está sendo apresentado
(Sayão, 1995).
O
objetivo geral do trabalho de Orientação Sexual é levar informações fidedignas,
problematizar, levantar questionamentos de posições estanques e promover a
ressignificação das informações e valores incorporados e vivenciados no
decorrer da vida de cada criança ou jovem.
Diversos
profissionais podem atuar como orientadores sexuais: pedagogos, assistentes
sociais, médicos ou psicólogos. Interessa-nos neste artigo apresentar e
analisar algumas peculiaridades que permeiam o desenvolvimento deste tipo de
trabalho realizado pelo psicólogo.
Acreditamos
que a finalidade da Psicologia Escolar
situa-se no compromisso claro com a tarefa de construção de um processo
educacional qualitativamente superior. Portanto, sua função social é a de
contribuir para que a escola cumpra de fato seu papel de socialização do saber
e da formação crítica dos indivíduos (Meira, 2003).
Concordamos
com Saviani (1992) que o trabalho educativo deve produzir em cada indivíduo
singular a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto
dos homens.
É
neste sentido que o psicólogo pode agregar novos valores ao trabalho de
orientação sexual, já que sua formação o habilita a compreender os fenômenos
psicológicos e os processos que os sustentam, enquanto mediações entre a
história social e a vida concreta dos indivíduos; os processos internos através
dos quais os homens constroem seu desenvolvimento nos grupos sociais aos quais
pertencem; o papel ativo das emoções e do significado que cada indivíduo
imprime à sua vida e às ações práticas no mundo, e em especial, aos processos
de ensinar e aprender; a relação entre subjetividade e práticas escolares,
analisando ao mesmo tempo e dialeticamente os determinantes sociais e as
questões próprias de cada sujeito (Meira, 2003).
A Sexualidade Humana na perspectiva sócio-histórica
de Vygotsky
1. Introdução
Falar sobre a sexualidade humana é
buscar entender a gênese do ser humano em seu aspecto mais íntimo e privativo.
É penetrar na esfera mais profunda de cada ser.
Este ato nos impulsiona a ter uma
postura humilde e de respeitabilidade pelo outro, conciliando a nossa maneira
de tratar a questão com uma análise crítica sobre a questão, buscando ampliar
nosso entendimento sobre o que é ter comportamentos ‘aceitáveis’ ou ‘normais’
dentro da sexualidade.
Devemos, como educadores sempre nos
lembrar que os padrões atuais foram definidos pelas crenças e valores de nossa
sociedade no transcorrer de nossa história.
Mas, para podermos ter esta postura,
muitas vezes, somos obrigados a iniciar esta reflexão através de nossa própria
concepção do que sexualidade. Como vivenciamos a nossa sexualidade? É a
pergunta básica para que cada educador possa iniciar-se no estudo desta
temática. Outra é: como entendemos a construção do que é definido como sexual
diante de todo o conhecimento desenvolvido pela a ciência, a filosofia, a
psicologia?
A postura mais comum era do
senso-comum que, até recentemente,
acreditava na construção de identidade sexual dos indivíduos apenas no respaldo
da biologia, onde as características físicas das genitálias humanas eram as
únicas definidoras de nossa identidade sexual.
Nenhuma outra forma de pensar esta
questão nos era proposto. Muito menos
estudar sobre a influência da cultura neste processo de reconhecimento do
indivíduo com portador de uma sexualidade, na qual os significados de ser
homem ou mulher estariam mais relacionados aos significados dado pelo grupo
social do que pelas características físicas.
Esta
é uma das maiores contribuições ao tema da sexualidade humana oferecida pela
teoria sócio-histórica de Vygotsky. A nossa proposta neste texto é exatamente
esta: através dos
fundamentos deixados pelo psicólogo russo, esperamos que a sexualidade, o
erotismo, o sexo, o amor, o gênero e a educação sexual, possam ser
re-significados de forma a contribuir para uma sadia construção da identidade
humana, em que o respeito pelo indivíduo esteja acima de qualquer forma de
preconceito.
Neste trabalho, entendemos a questão
da sexualidade como decorrente de todo o processo de desenvolvimento
apresentado pela teoria sócio-histórica proposta por Lev. S. Vygotsky e,
através deste, com o diálogo com outros autores, identificar qual é a importância da educação sexual oferecida pelas as
nossas escolas e, consequentemente, a ação pedagógica mediada pelos nossos
educadores com relação a este tema.
Será que estamos atendendo as
expectativas de nossos alunos e de nossa sociedade? Será que estamos
contribuindo para a formação sadia da sexualidade de nossos alunos? Ou pelo
contrário estamos criando maiores dificuldades?
Tivemos
o cuidado de escolher entre os autores renomados dos últimos cem anos de
história da Psicologia, como disciplina do conhecimento humano, aqueles cujos
trabalhos influenciaram a maneira como nós, atualmente, entendemos a nossa sexualidade e como a escola vê o conteúdo curricular da
educação sexual.
Iniciando com o pai da psicanálise,
Freud - responsável por tirar do mundo a inocência sobre a sexualidade,
preocupamo-nos em focar um pouco, o trabalho de Piaget, por este autor ainda
muito influente dentro das práticas pedagógicas e por decorrência, na maneira
como abordamos este tema na sala de aula. Entretanto, como nossa proposta é
trabalharmos com o argumento sócio-histórico, evocamos os pressupostos do marxista Vygotsky, que nos dá elementos
fundamentais para este tipo de interpretação da sexualidade humana. E como não
poderíamos deixar de mencionar, por ser atualmente o grande impulsionador desta
nova percepção sexual, nos deteremos um pouquinho na proposta de análise de
Foucault, em quem os pressupostos levantados pelo estudioso russo ganham uma
nova resignificação, difícil de ser negada pelos intelectuais atuais.
Porque é importante a educação sexual?
– e através de uma breve reconstrução os grandes movimentos sociais, culturais
e políticos pós-1945 na sociedade ocidental, começamos a trabalhar mais
diretamente com a nossa pergunta-tema.
Buscamos correlacionar o discurso
deste período com o que a lei educacional brasileira, através dos documentos
denominados PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais esperam que cada escola
realize quanto à educação sexual de nossos jovens. Buscamos também identificar
quais são as expectativas e implicações oriundas deste texto sobre a prática
pedagógica escolar.
Para reconhecermos quais foram as
inovações impulsionadas tanto pela orientação do MEC - quanto pelas pesquisas
se propuseram continuaram a trabalhar com a posição de Foucault e Vygotsky,
entendemos ser necessário comparamos o antes e depois da educação sexual,
evidenciando quais sofram os seus avanços nos últimos anos.
Acreditamos que, conseguiremos atingir
o nosso objetivo com este trabalho: provocar no leitor a necessidade de
refletir a sexualidade humana e o papel da escola, com a franqueza e clareza
que a questão necessita. Somente assim, acreditamos ser possível dar uma
formação integral aos futuros concurseiros de nosso país.
2. Sexualidade: um aspecto humano multifacetado
Não temos como contestar que na
atualidade os assuntos relacionados ao sexo estão bem mais freqüentes do que há
algumas décadas atrás.
A existência deste excesso de discurso
sobre a sexualidade humana já deveria fazer dela um tema provocativo de
reflexão aos educadores, devido à forma como ela está sendo apresentada e
estruturada em nossa sociedade.
É urgente para aqueles que se dispõem
a estudar o tema em sala de aula, a formação de uma postura crítica, já que a única
característica aparente de toda a sexualidade humana apresentada,
principalmente nos discursos das mais diversas mídias, é a dimensão sensual na
qual o apelo consumista e hedonista do capitalismo transnacional aposta seus
investimentos para aumentar suas margens de lucro, divulgando e criando uma
identidade do homem e da mulher que é uma visão reducionista da sexualidade
humana, vinculada, apenas e exclusivamente, à busca do prazer individual.
Quando falamos da sexualidade, muitos
ouvintes tendem a pensar exclusivamente em sexo, ou seja, no ato sexual
propriamente dito. Mas, a sexualidade não é apenas a relação sexual entre um
homem e uma mulher, como é tido como normal e aceitável.
Sob esta palavra estão postas questões
sobre a formação da identidade sexual humana, digo, questões de gêneros. E
através delas podemos ampliar a discussão para pontos tidos ainda como tabus
por muitos membros de nossa sociedade, como as relações homossexuais, o
erotismo, a sensualidade de cada um, o conhecimento do nosso próprio corpo, que
não estão limitadas em saber como ele funciona, mas é um conhecer que
explora a formação das diferenças entre o homem e a mulher dentro de um grupo
social.
E estas questões sempre estão mediadas
por um outro assunto subjetivo e vital para o ser humano – o amor. O que
significa amar o outro? Como se ama o outro? Como se relaciona com o outro?
Quem é o outro? Ou seja, a sexualidade é
uma questão bem mais complexa e multifacetada do que a imaginação popular
pressupõe.
E esta abrangência do tema sexualidade
já está definida até mesmo nos dicionários mais comuns de nossa língua, quando
se lê: "o conjunto dos fenômenos sexuais" logo na primeira entrada.
Podemos então dizer que este é um
aspecto da vida que possui alguns níveis ou dimensões e que devem ser bem
compreendidos por todos, porque na espécie humana, há diferenciais marcantes
porque o ser humano também é um ser social.
Então,
quando dizemos o nível biológico-reprodutivo da sexualidade, estamos falando de
um aspecto que é comum a todos os seres vivos: homens, animais e plantas, sendo
o sexo entendido como o fenômeno reprodutivo e a ênfase da sexualidade está na
função dos aparelhos reprodutores naturais ou artificiais.
Geralmente, este nível da sexualidade
é objeto de estudo na escola, na disciplina de biologia, e para o senso comum é
este o conteúdo que deve ser abordado com o menino ou com a menina quando é
"chegada à hora" de ter uma conversa de homem para homem ou mulher
para mulher.
Mas, será que aprender sobre os
mecanismos biológicos da sexualidade, conhecendo seus aparelhos reprodutores,
os ciclos menstruais das fêmeas e as diversas formas de reprodução de vida, é
falar da sexualidade humana de uma maneira abrangente e crítica?
Cremos que este tipo de conhecimento
diz respeito apenas à sexualidade em sua dimensão biológica, ou seja, é
informação básica sobre nosso próprio corpo. Não abrange todo o significado que a sexualidade tem para o ser humano
moderno.
Por este motivo, concordando com o
prof. César Nunes, devemos considerar que
há uma segunda dimensão da sexualidade que é algo exclusivamente humana e
decorrente do homem ser um ser social, ou
seja, que decorrer das relações sociais profundas que influenciaram todo o
processo de desenvolvimento da espécie e que podem ser estudados em
profundidade nas obras de Marx e Engels.
Este nível exclusivo da sexualidade humana é denominado de
psicossocial porque nele se dá a influência do social sobre o psicológico
humano. É onde as
diferenças entre os sexos são formadas. Assim, ser homem ou ser mulher decorre
de como a sociedade onde o ser está inserido assim determina o que é ser macho
e ser fêmea.
Este processo é claramente explicado
pela teoria sócio-histórica de Vygotsky, nos seguintes dizeres da pesquisadora
Marta Kohl:
"o processo de
desenvolvimento do ser humano marcado por sua inserção em determinado grupo
cultural se dá ‘de fora para dentro’.
Isto é, primeiramente o indivíduo
realiza ações externas que serão interpretadas pelas pessoas ao seu redor, de
acordo com os significados culturalmente estabelecidos. A partir dessa
interpretação é que será possível para o indivíduo atribuir significados a suas
próprias ações e desenvolver processos psicológicos internos que podem ser
interpretados por ele próprio a partir
dos mecanismos estabelecidos pelo grupo cultural e compreendidos por meio dos
códigos compartilhados pelos membros desse grupo" (Oliveira, 1993,
pp.38-39).
Assim,
todas as ações, atitudes, comportamentos, valores, expressões sentimentais, e
outros atributos vinculados por uma cultura na sua idealização do que é ser homem ou mulher são
utilizados pelo grupo para sinalizar à criança em desenvolvimento como o grupo a
identifica sexualmente: se ele é homem ou é mulher.
Por esta razão, consideramos o nível psicossocial como o nível
onde, individualmente, formamos a nossa compreensão mental do que constitui e
constituirá ser uma mulher ou um homem, utilizando todos estes
elementos citados porque são eles os significadores desta representação mental.
Assim,
entendemos o porquê da identidade masculina em nossa sociedade estar associada
aos atributos de ser forte, seguro e poderoso e
o feminismo ser apresentado como um ser dócil, meiga ou
temerosa.
Essas características não são inatas, nem tampouco, estão prontas nos seres
humanos. Elas são adquiridas pelo indivíduo ao longo de seu
desenvolvimento e por isto não podemos dizer que são características naturais.
Assim, o homem e a mulher só possuem essas características
porque são educados para agirem desta maneira. Ou seja, o homem é
educado para ser dominador, forte, altruísta, enquanto a mulher é educada para
ser submissa e contida.
Desta forma, a atitude dos professores frente à questão sexual na
sala de aula pode influenciar na maneira como o menino ou a menina compreendem
sua própria sexualidade,
o que faz da educação sexual ainda mais importante já que a escola é hoje uma
das instituições responsáveis pela educação das novas gerações.
Com o advento das transformações
sociais oriundas das transformações econômicas e políticas suscitadas pelo
avanço do capitalismo agora em sua forma industrial, ocorrem também profundas
modificações de como a sexualidade humana deveria ser desenvolvida, tanto pelos
os homens como pelas as mulheres.
Desta forma, a partir do século XIX, é
conferida ao homem uma intensa responsabilidade sexual, porque era senso comum,
da época, ser sua função controlar o furor sexual da mulher (furor este que
está ligado à idéia de luxúria da Alta Idade Média). Eram consideradas também
sua responsabilidade, a saúde e a estética dos filhos gerados destas relações
sexuais.
Apesar de toda esta pressão social
exercida sobre a sua responsabilidade dentro do campo sexual, não era aceito
nesta sociedade – muito conhecida como vitoriana, em especial na Inglaterra – a
prática da masturbação como forma dos jovens de iniciação era completamente
condenada, sendo esta condenação legitimada tanto pelos médicos quanto pela
Igreja.
Aliás, a ciência médica deste período
se interessa muito pelas práticas sexuais e, principalmente, pelas do leito
conjugal. Segundo a medicina, o esperma
era considerado como um líquido precioso e, desse modo, aconselhavam a economia
desta substância tão rara - defendendo uma política anti-masturbatória -
reservando-a somente para a reprodução. Neste ponto, ela se une a Igreja e as
finalidades do casamento cristão.
4.
A sexualidade na psicologia: várias formas de percepções
Como vimos até aqui, a sexualidade
humana é uma bastante complexa e determinada pela interação de múltiplos
aspectos correlacionados e que estão à mercê da influente pressão da ação
cultural dos diversos setores de nossa sociedade. No decorrer da história da
formação do homem contemporâneo ocidental, é justificável, ainda, termos nos
nascentes anos do século XXI muitas questões relacionadas com este aspecto da
personalidade humana, suscitando dificuldades e confrontos dentro dos diversos
setores de nossa sociedade e, em especial, entre os próprios educadores.
Este
fato pode estar relacionado com o interesse da ciência pela sexualidade humana
ter ocorrido apenas nos últimos anos do século XIX, impulsionado pelos estudos
de Freud. Foi a partir desta época que novas perspectivas e abordagens
psicológicas foram ganham formas e sendo discutidas tanto nos meios acadêmicos
quanto no social.
Assim, para podermos compreender as
discussões atuais a respeito da sexualidade e, em especial as que ocorrem
dentro do ambiente escolar, é que se faz necessário termos um contato com
alguns autores clássicos cujas teorias contribuíram para a formação de nossas
diversas perspectivas sobre a sexualidade humana, atualmente.
Para atendermos a esta necessidade, faremos uma breve introdução dos
pontos mais relevantes das teorias psicológicas de Freud, Piaget, Vygotsky. E
também sobre a teoria do psicólogo, historiador e filósofo, Foucault, que é
hoje tido como o autor mais importante na área de estudo sobre a sexualidade,
devido aos seus estudos intitulados A
história da sexualidade.
Entendemos estes autores como os mais
significativos para a construção e elucidação de nossa proposta: por que a
educação sexual é importante?
4.1
Freud e a sexualidade da criança: o mundo perde sua inocência
Freud nasceu em Freiberg, Morávia, em
1856. Estudou medicina
na Universidade de Viena, direcionando sua pesquisa para a área de psiquiatria. Estudou
várias moléstias do sistema nervoso, e entre 1880 e 1890, fixou-se como um neurologista de
renome introduzindo explicações funcionais, correlacionando áreas motoras,
acústicas e visuais do cérebro.
Seus
trabalhos sobre afasia, paralisia infantil, hipertonias nos membros inferiores
e, em especial, seu trabalho final sobre a paralisia cerebral infantil, lhe
asseguraram um lugar histórico na medicina.
Cabe notar que as teorias científicas,
principalmente as voltadas à psiquiatria, desenvolvidas por Freud, surgem
influenciadas pelas condições da vida social, política, econômica e nos seus
múltiplos aspectos durante determinados períodos de vida do autor.
Conforme Freud avança em suas
pesquisas mais a psiquiatria lhe atrai. Assim, temos o primeiro grande
conceito por ele desenvolvido - o Inconsciente. Seu pensamento consistia na
afirmação de que não há nenhuma descontinuidade na vida mental, desacreditando
no acaso dos eventos sucedidos nos processos mentais.
Para ele, sempre há uma causa para
cada pensamento, para cada memória revivida, sentimento ou ação. Cada evento mental é causado pela intenção
consciente ou inconsciente e é determinado pelos fatos que o precederam
(determinismo psíquico). O consciente seria então apenas a ponta do iceberg.
Seus estudos crescem e conforme
avançava suas investigações em sua clínica sobre as causas e o funcionamento
das neuroses, percebe que havia uma grande relação entre a maioria dos
pensamentos e dos desejos reprimidos com os conflitos de ordem sexual,
localizados nos primeiros anos de vida dos indivíduos, isto é, na vida
infantil.
Suas descobertas colocam a sexualidade no centro da vida psíquica,
de onde advém o segundo conceito mais importante da teoria psicanalítica: a
sexualidade infantil.
Estas afirmações tiveram profundas repercussões na sociedade puritana da época
pela concepção vigente de infância "inocente".
Com sua teoria, Freud afirma que a
criança traz consigo ao mundo germes de atividade sexual e que, já ao se
alimentar, goza de uma satisfação sexual buscando sempre proporcionar-se do
mesmo gozo através da conhecida atividade de "chuchar". Sua teoria mostra
que a atividade sexual está presente desde os primeiros anos de vida. Assim a criança
passa por um período de florescência (entre 2 e 5 anos), para depois entrar no
período denominado por ele de período de latência. Neste, "a
produção de excitação sexual de modo algum é suspensa, mas continua e oferece
uma provisão de energia que é empregada, em sua maior parte, para outras
finalidades que não as sexuais, ou seja, de um lado, para contribuir com os
componentes sexuais para os sentimentos sociais, e de outro (através do
relacionamento e da formação reativa), para construir as barreiras posteriores
contra a sexualidade" (FREUD).
Temos então como principais aspectos da sexualidade
infantil:
A função sexual existe desde o princípio de vida, logo após o nascimento
e não só a partir da puberdade
como afirmavam as idéias dominantes.
O período da sexualidade é longo e
complexo até chegar à sexualidade adulta, onde as funções de reprodução e de
obtenção de prazer podem estar associadas, tanto no homem como na mulher. Esta
afirmação contrariava as idéias predominantes de que o sexo estava associado,
exclusivamente a reprodução. A libido, nas palavras de Freud, é a "energia
dos instintos sexuais e só deles".
No segundo dos "Três ensaios de
sexualidade" das obras completas, Freud postula o processo de
desenvolvimento psicossexual. Este processo consistiria em o indivíduo
encontrar o prazer no próprio corpo, pois nos primeiros tempos de vida, a
função sexual está intimamente ligada à sobrevivência. A satisfação surge
mediante a excitação sensorial apropriada das chamadas zonas erógenas, e
"provavelmente podem funcionar como tal qualquer ponto da pele e qualquer
órgão dos sentidos, embora existam certas zonas erógenas destacadas cuja
excitação estaria assegurada, desde o começo, por certos dispositivos
orgânicos" (FREUD).
As excitações de todas essas fontes
ainda não estão conjugadas, cada qual seguindo separadamente seu alvo, que é
meramente a obtenção de certo prazer. Há, portanto, um desenvolvimento
progressivo também ligado às modificações das formas de gratificação e de
relação com o objeto, que levou Freud chegar às fases do desenvolvimento sexual.
Assim temos:
Fase oral (0 a 2 anos) - a zona de erotização é a boca e o prazer
ainda está ligado à ingestão de alimentos e à excitação da mucosa dos lábios e
da cavidade bucal. Objetivo sexual consiste na
incorporação do objeto.
Fase anal (entre 2 a 4 anos
aproximadamente) - a zona de erotização é o ânus. O prazer está intimamente
ligado ao controle
dos esfíncteres (anal e uretral).
Segundo Freud, entre 2 e 5 anos ocorre o Complexo de Édipo, e é em torno
dele que ocorre a estruturação da personalidade do indivíduo.
"Paralelamente e
ambivalentemente ao amor que o menino devota ao pai, fica-lhe dirigido um
sentimento mesclado de ódio e temor. A criança configura o desejo de eliminar
aquele que lhe impede o acesso a mãe", está assim configurado o triangulo
do Complexo de Édipo.
Fase fálica - a zona de
erotização são os órgãos sexuais. Desenvolve-se o interesse infantil por eles, e
a masturbação torna-se freqüente e normal.
Período de latência - que se prolonga até
a puberdade e se caracteriza por uma diminuição das atividades sexuais, como
um intervalo. Neste período há uma canalização das energias sexuais para o
desenvolvimento social.
Fase Genital - E, finalmente, na adolescência é atingida a última fase quando o objeto
de erotização ou de desejo não está mais no próprio
corpo, mas em um objeto externo ao indivíduo - o outro. Neste momento meninos e meninas estão conscientes de
suas identidades sexuais distintas e começam a buscar formas de satisfazer suas
necessidades eróticas e interpessoais.
Temos
aqui resumidas as principais partes da teoria sobre a sexualidade de Freud,
ressaltando que, "a educabilidade de pessoas jovens chega ao fim quando
suas necessidades sexuais surgem em toda a sua plenitude" (FREUD). Durante o período de transição da
puberdade, os processos de desenvolvimento somático e psíquico prosseguem por
algum tempo sem ligação entre si, até que "uma irrupção de uma intensa
moção anímica de amor" (Freud), leva à inervação dos genitais, produzindo
uma unidade da função amorosa. Assim caberia aos educadores agir de acordo com
sua teoria, deslocando o impacto principal da educação sexual para a infância.
De acordo com este, "a pequena criatura, freqüentemente, já esta completa
ao redor do quarto ou quinto ano de vida, e, depois disso, simplesmente revela
o que já está dentro de si" (FREUD).
4.2
A sexualidade na concepção piagetiana de desenvolvimento
Jean Piaget nasceu no dia 9 de agosto
de 1896, em Neuchâtel, na Suíça. Foi um renomado psicólogo e filósofo suíço,
conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil.
Freqüentou a Universidade de Neuchâtel, onde estudou Biologia e Filosofia
recebendo seu doutorado em Biologia em 1918, aos 22 anos de idade.
Após formar-se, parte para Zurich,
onde trabalhou como psicólogo experimental. Lá freqüentou aulas lecionadas por
Jung e trabalhou como psiquiatra em uma clínica. A partir daí começa a combinar
a psicologia experimental - que é um estudo formal e sistemático - com métodos
informais de psicologia: entrevistas, conversas e análises de pacientes.
Em 1919, inicia seus estudos
experimentais sobre a mente humana e começa a pesquisar também sobre o
desenvolvimento das habilidades cognitivas. Seu conhecimento de Biologia levou-o a enxergar o desenvolvimento
cognitivo de uma criança como sendo uma evolução gradativa.
Desenvolveu diversos campos de estudos
científicos: a psicologia do desenvolvimento, a teoria cognitiva e o que veio a
ser chamado de epistemologia genética. A essência de seu trabalho ensina que ao
observarmos cuidadosamente a maneira com que o conhecimento se desenvolve nas
crianças, podemos entender melhor a natureza do conhecimento humano.
Assim, formulou sua teoria de que o
conhecimento evolui progressivamente por meio de estruturas de raciocínio que
substituem umas às outras através de estágios. Isto significa que a lógica e
formas de pensar de uma criança são completamente diferentes da lógica dos
adultos. Esta descoberta cria uma abordagem
educacional diferente, modificando a teoria pedagógica tradicional que, até
então, afirmava que a mente de uma criança é vazia, esperando ser preenchida
por conhecimento.
Na
visão de Piaget, as crianças são as próprias construtoras ativas do conhecimento,
constantemente criando e testando suas teorias sobre o mundo. Em seu trabalho,
identifica os quatro estágios de evolução mental de uma criança. Cada estágio é
um período onde o pensamento e comportamento infantil é caracterizado por uma
forma específica de conhecimento e raciocínio. São os
estágios: o sensório-motor, o pré-operatório, o operatório concreto e o
operatório formal.
Sensório Motor (0-2 anos) - A partir
de reflexos neurológicos básicos, o bebê
começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio. A
inteligência é prática. As noções de espaço e tempo são construídas pela ação.
O contato com o meio é direto e imediato, sem representação ou pensamento.
Pré-operatório (2 a 7 anos) - Também chamado de
estágio da Inteligência Simbólica. Caracteriza-se, principalmente, pela interiorização de esquemas de ação
construídos no estágio anterior (sensório-motor). O egocentrismo é característico dessa fase e por
causa dele a criança se torna incapaz de se colocar no lugar do outro. A
criança não aceita casualidades e tudo deve ter uma explicação. Possui
percepção global sem discriminar detalhes, podendo agir por simulação.
Operatório-Concreto (7-11 anos) - Neste estágio a criança é capaz de realizar
operações concretas, ou seja, é capaz de realizar uma ação interiorizada,
executada em pensamento e desenvolve as noções de tempo, espaço, velocidade,
ordem, e casualidade, sendo capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair
dados da realidade. Não se limita a uma representação imediata, mas ainda
depende do mundo concreto para chegar à abstração, dependendo de materiais
concretos para realizar essas operações.
Operatório-Formal (12 a diante) - A representação agora permite a abstração
total. A criança não se limita mais à representação imediata nem somente às
relações previamente existentes, mas é capaz de pensar em todas as relações
possíveis logicamente buscando soluções a partir de hipóteses e não apenas pela
observação da realidade. Desta forma Piaget diz que a criança constrói suas
crenças em virtude do inconsciente, devido ao seu passado e à sua vivencia num
estilo individual, pessoal e único. "Assim, a "vivência" de cada
criança é singular e diferente da vivência de outra, mas a gênese e evolução
dessas crenças são comuns a todas as crianças por dependerem do desenvolvimento
da inteligência como um todo." (RIBEIRO, 1996, p. 30).
O
embasamento de sua teoria esta na idéia de que existe uma diferenciação do eu e
o grupo onde há uma "reciprocidade e respeito mútuo e a aleatoriedade da regra,
pois seu valor resulta do grau do grau de aquiescência dos membros do grupo,
que poderão também elaborar uma regra ideal, que independa da experiência
concreta e das praticas e regras do grupo." (RIBEIRO, 1996. p.33).
Assim,
para Piaget, o desenvolvimento mental humano está influenciado por quatro
fatores inter-relacionados, e enumerados abaixo:
Maturação:
amadurecimento físico especialmente do sistema nervoso central.
Experiência:
manipulação de objetos, movimentos corporais e pensamentos sobre os objetos
concretos e processos de pensamentos que os envolvem. Interação social-jogo,
conversas e trabalho com outros indivíduos especialmente outras crianças.
Equilibração:
processo de reunir maturação, experiências e socialização de modo a construir e reconstruir estruturas mentais.
Vemos claramente que sua teoria parte
de um desenvolvimento interno para uma interação com o mundo, onde o individuo
irá ter idéias próprias a respeito da realidade em que vive construindo seus
modelos representacionais do mundo natural, psicológico e social, a partir do
grupo cultural em que está inserido.
A sexualidade na teoria de Piaget segue
o mesmo modelo de sua teoria. A criança passaria primeiro, por uma fase de
maturação seguida de uma interação com o ambiente em que vive. Deste modo, a criança construiria os
seus conceitos e a sua moral quanto à sexualidade e adotaria padrões de
comportamento. Mediante
uma aprovação dos adultos as crianças saberiam se esse padrão é apropriado ou
não, estando assim construindo e reconstruindo ativa e progressivamente regras
e conceitos, neste caso sobre a sexualidade humana.
É nesse "equilíbrio" e
"desequilíbrio" que está centrada toda a teoria de Piaget. Ele sustenta que a criança constrói
tanto as suas representações da realidade como as suas estruturas de
conhecimento, ou seja, sua própria inteligência nessa desorganização e
organização de conceitos. A criança perceberia uma contradição,
desequilibrando-se e só a partir de uma superação é que se equilibraria
novamente. É dessa forma que as novas gerações seriam capazes de demolir
padrões sedimentados e construir novos, inclusive quanto à sexualidade humana e
tudo que nela está envolvida.
Segundo Piaget, a construção do
conhecimento ocorre quando o indivíduo age, física ou mentalmente, sobre os
objetos, provocando o desequilíbrio do conhecimento adquirido anteriormente.
Esse desequilíbrio deve ser resolvido por meio de um processo de assimilação e
acomodação do novo conhecimento. Assim, o equilíbrio será restabelecido para,
em seguida, sofrer outro desequilíbrio.
Assimilação
- É o processo cognitivo de colocar novos conhecimentos em esquemas já
existentes. É a incorporação de elementos do meio externo
(conhecimentos, objetos) a um esquema ou estrutura do sujeito. Esse processo de
captar o ambiente e de organizá-lo possibilita a ampliação dos esquemas já
existentes.
Acomodação
- É a modificação de um esquema ou de uma estrutura,
em função das particularidades do conhecimento ou do objeto novo que será
assimilado. O indivíduo poderá criar um novo esquema que absorva o novo
conhecimento ou objeto, ou poderá adaptar um esquema existente para que o novo
conhecimento possa ser incluído nele.
Equilibração
- É o processo que se dá quando se passa de uma situação de menor equilíbrio
(durante a assimilação) para uma situação de maior equilíbrio (durante a
acomodação).
A
sexualidade dentro da visão proposta por Vygotsky sobre o desenvolvimento
humano
Lev SemyonovitchVygotsky nasceu em 05
de novembro de 1896, na cidade de Orsha, no nordeste de Minsk, na Bielo-Rússia
e em 1917 graduou-se na Universidade de Moscou, especializando-se em
literatura. Até o ano de 1923, lecionou literatura e psicologia na cidade de
Gomel. Em 1924, transfere sua residência para Moscou, iniciando seus estudos no
Instituto de Psicologia e por causa destas pesquisas, ingressou no curso de
medicina. Morreu precocemente vítima de tuberculose, em 1934, deixando inúmeras
notas de seus trabalhos, não deixando um trabalho sistematizado, mas deixando
aos seus colaboradores oportunidades.
Tinha como ambição estruturar uma
teoria psicológica que abarcasse todos os aspectos psicológicos humanos que
permitissem estudar e compreender como surgiam e processavam as funções
psicológicas superiores. Infelizmente, morreu antes de conseguir alcançar este
intuito, mas deixou um legado teórico que ainda suscita em seus discípulos,
muitas provocações.
Por
causa disto, não deixou escrito nenhum texto específico a respeito da questão
da sexualidade humana,
até mesmo porque o foco central de sua pesquisa contemplava a questão do
pensamento, suas relações com a linguagem e com o desenvolvimento humano como
um todo e não apenas de um aspecto específico como este.
Entretanto, com sua proposta sobre
como se dá no homem o desenvolvimento, nos permite ampliar as discussões sobre
a gênese da identidade sexual e a constituição dos gêneros humanos.
Partindo
dos quatro níveis de desenvolvimento por ele proposto, podemos traçar o
relacionamento entre estes níveis e a constituição da identidade sexual do
indivíduo. Tal como
se deu, com outros aspectos humanos como a linguagem, por exemplo, na qual a
importância da atuação do grupo social sobre o indivíduo, através da
perspectiva vygotskyana é tida como fundamental para um desenvolvimento amplo,
fornecendo mais evidências sobre a importância da continuação de estudos dentro
desta perspectiva.
Uma possibilidade que nos é dada por
esta teoria, está em analisarmos a sexualidade humana e sua formação, numa
abordagem que vai além das características biológicas. O que se torna importante não é o físico, mas a representação simbólica
que este físico representa para um dado grupo social e como este grupo social
interpreta e relaciona estes significados com os mais variados comportamentos
expressos pelo homem nesta dimensão.
A maneira como estes significados vão
sendo transformados através da mediação do fator social, influi na construção
dos gêneros humanos, homem e mulher, como brevemente foi apresentado no começo
deste texto.
Assim,
ser "homem", ou do gênero masculino, constitui uma idealização
impregnada por diversas características e expressões como: ter força muscular,
não sentir dor, não sentir medo, não ter vontade de chorar, entre outras. Estes
significados são referentes a diversas características que contemplam do físico
ao emocional, sendo o comportamento sexual uma das marcas mais marcantes do
gênero humano.
Desta
forma, o primeiro nível ou plano de desenvolvimento
sugerido por Vygotsky - a filogênese – que contempla a história da espécie humana e suas
características físicas e biológicas, determinadas pela própria espécie
no decorrer da evolução da mesma, limita o ser humano em dois gêneros caracterizados basicamente pela
morfologia dos seus órgãos reprodutores – o sexo feminino e o sexo masculino.
As
diferenças mais evidentes dos gêneros humanos estão na localização do aparelho
reprodutor no corpo humano e a sua morfologia. O da mulher (feminino) é interno,
constituído de um canal que liga a parte externa entre as pernas – vagina – até
a cavidade uterina, local de abrigo para o feto durante seu desenvolvimento.
Este está interligado aos ovários, onde são produzidas e armazenadas as células
reprodutoras – os óvulos – que a partir da adolescência, são liberados a cada
ciclo de mais ou menos 28 dias.
O do homem é externo, constituído pela
bolsa escrotal, na qual são produzidas e armazenadas as células reprodutoras –
os espermatozóides – e que fica localizado entre as pernas. Está interligado
por um duto condutor (a uretra) até a extremidade do pênis, órgão alongado que
quando excitado sexualmente fica rijo e ereto, o que facilita no coito, a
expulsão e implantação dos espermatozóides no corpo feminino. No encontro
destes com o óvulo, ocorre a fecundação que é a origem de uma nova vida humana.
Mas, é no próximo plano de desenvolvimento vygotskyano - a
sociogênese - que a sexualidade humana encontra as respostas para
sua constituição ou definição. Isto porque é neste nível que a
história cultural de um grupo determina os significados do que é fazer parte de
um gênero ou de outro. E é nesta fase que o estudioso da sexualidade
humana, deve buscar as respostas para compreender como a imersão do indivíduo
na cultura do grupo social no qual ele nasce influencia na sua constituição
como sujeito sexual e, portanto, como esta intervenção cultural forma os
processos mentais superiores acerca do sexo e da sexualidade.
Esta questão foi abordada neste texto
quando, na primeira parte, tratamos da questão da cultura. Entretanto, é pertinente dizer que aqui não
estamos falando de cultura só no sentido macro-social, como a nação ou a língua
ou o grupo étnico, mas também no sentido micro, restrito, particular de cada
indivíduo em contato como os valores e as crenças familiares, por exemplo.
Apesar da força do nível da sociogênese, o segundo nível ou plano
genético - a ontogênese - também é importante porque associado com o primeiro,
irá determinar quais as mudanças que o ser humano irá passar no decorrer de seu
desenvolvimento, até formar por completo sua identidade sexual. Ou seja, este nível determina quais os eventos físicos e biológicos
deverão ocorrer para a maturação sexual do indivíduo. Quer dizer, trata do
próprio ciclo de vida que a espécie humana determina para quem tem o gênero
feminino ou o gênero masculino.
Assim, é nele que devem ser estudadas
as transformações ocorridas durante a adolescência e é o que determina se o
menino vai ou não desenvolver muitos pêlos pelo corpo, ou quando a menina
viverá seu primeiro ciclo menstrual e assim por diante.
Mas,
também está relacionado com o terceiro, a sociogênese, porque seu
desenvolvimento não é somente uma maturação biológica, é um processo que esta
sendo constantemente influenciado e interpretado pelo grupo social, no qual o
indivíduo está inserido.
Um exemplo claro desta influência cultural, exercida pelo grupo sob o
indivíduo, são os ritos de passagem que alguns grupos praticam durante a fase
do desenvolvimento identificado por nossa cultura ocidental como a
adolescência.
Podemos identificar na relação destes
três níveis do desenvolvimento que a filogênese limita as possibilidades da
influência cultural porque há no ser humano condições físicas que determinam o
que ele pode ou não fazer, quanto à questão sexual.
Entretanto, esta relação vista na
ordem inversa, da sociogênese para a filogênese, nos permite perceber que há
uma ampliação de possibilidades geradas pela cultura que permite ao indivíduo
realizar muito mais do que sua condição física permite.
E uma destas possibilidades dentro da
sexualidade, é a relação sexual entre duas pessoas do mesmo sexo, na qual a
morfologia dos órgãos sexuais não restringe a possibilidade dos indivíduos
realizarem esta prática sexual, como pudemos estudar através do histórico
apresentado anteriormente.
O quarto e último plano genético proposto é o microgênese. Este termo não foi sugerido para
Vygotsky, mas por um estudioso contemporâneo chamado Wertsch. Refere-se à história individual de cada indivíduo como única e
exclusiva. Este é o nível onde a sexualidade humana deve ser compreendida porque
esta será desenvolvida pelo indivíduo como uma síntese realizada entre o que o
social identifica como ideal para o seu gênero e como ele o assim entende. Diz
respeito, de como um indivíduo específico, trilhou a trajetória do
desenvolvimento determinado para a espécie humana.
Desta forma, Vygotsky entendia que tudo na constituição do
ser humano, e em especial a sua sexualidade, não é algo inato, que está pronto
no momento do nascimento, mas são todas oriundas de um processo que nem sempre
é perceptível.
Então, o papel do pesquisador em
psicologia é tornar estes processos perceptíveis, função esta que deve ser
encarnada principalmente pelos educadores, quando o assunto em questão é a
formação da sexualidade humana.
Outra
implicação deste quarto nível do desenvolvimento humano proposto é o de
derrubar o mito do determinismo biológico dentro do conhecimento psicológico e
também nos alerta para não termos a influência cultural (determinismo cultural)
como uma força soberana
na constituição do indivíduo, eliminando sua subjetividade.
E isto é mais incisivo no
desenvolvimento da sexualidade ou da percepção sexual que cada indivíduo tem de
si mesmo.
É
o processo de integração destes quatro níveis, que ocorrem através de processos
muito complexos que dá ao ser humano aquilo que é típico de cada um dos membros
de nossa espécie – a singularidade. E
na área sexual esta singularidade também existe!
Foucault:
ponto de partida para a compreensão da sexualidade contemporânea
Foucault é hoje o nome mais
emblemático no campo de estudo da sexualidade humana. Segundo o conteúdo
biográfico do site Espaço Michel Foucault, Paul-Michel Foucault nasceu em
Poitiers, uma cidade francesa, em 15 de outubro de 1926.
Fez parte de uma família de longa
tradição médica na França, e por este motivo foi estimulado por ela a prestar
concurso para estudar na Escola Normal Superior (em 1945). Como reprovou na
primeira tentativa, ele foi estudar no Liceu tendo a oportunidade de ser aluno
de Jean Hyppolite, importante filósofo que trabalhava o hegelianismo na França.
Em 1946, passa nos exames da Escola
Normal Superior da França e aí conhece e mantém contatos com Pierre Bourdieu,
Jean-Paul Sarte, Paul Veyne, entre outros. Além de ser aluno de Maurice
Merleau-Ponty. Dois anos depois, Foucault recebeu sua licenciatura em
Filosofia, na Universidade de Sorbonne e em 1949, a sua Licenciatura em
Psicologia e seu Diploma em Estudos Superiores de Filosofia, defendendo uma
tese sobre Hegel, sob a orientação de Jean Hyppolite.
Em meio a angústias e descaminhos que
levaram Foucault a algumas tentativas de suicídio, o pensador adere ao Partido
Comunista Francês, em 1950, ao qual ficou ligado pouco tempo em função de
desavenças políticas e de "intromissões" pessoais que o partido fazia
na vida de seus participantes.
Em 1951, Foucault tornou-se professor
de psicologia na Escola Normal Superior, onde teve como alunos Derrida e Paul
Veyne, os ideólogos do pós-modernismo. É neste período que sua afinidade pelas
artes torna-se mais evidente e também, é o período que ele vai freqüentar o
famoso Seminário de Jacques Lacan, onde Maurice Blanchot e Georges Bataille o
aproximam de Nietzsche, ao mesmo tempo em que recebe seu diploma em Psicologia
Experimental (fase em que estudou as obras de Janet, Piaget, Lacan e Freud).
Para seus biógrafos, foi os anos entre
1960 a 1970, a fase mais produtiva academicamente deste pensador, porque ele
assumiu a cadeira de Jean Hyppolite na disciplina História dos Sistemas de
Pensamento e publicou a maioria de suas obras como: Histoire de la Folie à
l’âge Classique (1961; História da Loucura na Idade Clássica), (Naissance de la
clinique, 1963; Nascimento da Clínica), (Les Mots et les choses, 1966; As
Palavras e as Coisas), (L’Archeologie du Savoir, 1969; A Arqueologia do Saber);
Surveiller et punir (1975; Vigiar e Punir).
Entretanto, deixou inacabado seu mais
ambicioso projeto e o que o fez ser uma referência no estudo da sexualidade
humana, Historie de la Sexualité
(História da Sexualidade), Nesta obra, pretendia mostrar como a sociedade
ocidental fez do sexo um instrumento de poder, não por meio da repressão, mas
da expressão. O primeiro dos seis volumes anunciados foi publicado em 1976 sob
o título La Volonté de Savoir (1976; A Vontade de Saber) e despertou duras
críticas, que o levaram a se retirar do cenário público.
Somente em 1984, pouco antes de
morrer, publicou outros dois volumes, rompendo um silêncio de oito anos:
L’Usage des plaisirs (O uso dos prazeres), que analisa a sexualidade ma Grécia
e Le souci de soi (O cuidado de Si), que trata da Roma nos dois primeiros
séculos do Cristianismo.
Foucault teve vários contatos com o
exterior e, várias vezes, esteve no Brasil onde realizou conferências e firmou
amizades. Foi aqui que pronunciou as importantes conferências sobre A verdade e
as formas jurídicas, na PUC do Rio de Janeiro.
Mas, foi nos Estados Unidos que
realmente sentiu-se em casa por causa do apoio deste governo à liberdade
intelectual e por ter sido, em São Francisco, Califórnia, a cidade onde Foucault
pode vivenciar algumas experiências mais marcantes em sua vida pessoal no que
diz respeito à sua sexualidade, já que ele era homossexual assumido.
Em junho de 1984, em função de
complicadores provocados pela AIDS, Foucault foi vítima de uma septicemia que
causou a sua morte por supuração cerebral, no dia 25.
Discutido e estudado por várias áreas
do saber, inclusive na área educacional, Foucault foi um pensador arrojado, um
intelectual preocupado com o presente em que se encontrava inserido, percorrendo
os saberes em busca de uma crítica que subvertesse os esquemas dos saberes e
das práticas que ainda hoje nos subjugam.
Por estas razões, seus estudos de
sexualidade não devem ser preteridos, principalmente pelos educadores
comprometidos com uma educação sexual consistente e libertadora. Mas, por que
será que a sexualidade humana passou nos anos 80 e 90 um tema a integrar os
currículos escolares do mundo todo e do nosso país?
Esta questão é fundamental para
compreendermos a complexidade da proposta formulada por este trabalho que será
agora, abordada mais de perto, já que até aqui, colocamos os pressupostos
históricos de como a sexualidade foi tratada pela sociedade humana e como a
psicologia buscou trazer, de várias perspectivas, uma contribuição para esta
discussão.
Do
mundo pós-guerra até os PCN´s brasileiros
Por que falar de sexualidade na
escola?
Com o advento da psicanálise e seu
desenvolvimento no período entre guerras e todas as mudanças tecnológicas e
científicas do pós-guerra que permitiram a ciência dar à mulher o controle e o
domínio sobre seu corpo, através da criação da pílula anticoncepcional, fez com
que o mundo passasse por profundas mudanças sociais.
Catonné diz que já é possível sentir
uma profunda diferença no comportamento sexual da humanidade ainda nos anos de
1948-1953, quando são divulgados os resultados do relatório Kinsey. Estes
tiveram o orgasmo como tema central e buscava compor um quadro de como a idéia
de igualdade sexual era postulada pela sociedade de então. Seguiram muitos
outros estudos que foram aos poucos modificando o comportamento sexual através
principalmente, pela campanha, da mídia em favor do aborto e da igualdade
feminina, não apenas sexual, mas também econômica. Sendo assim, os anos de 1970
podem ser tratados como o marco da nossa nova etapa histórica sexual, onde
novas questões são postas como a questão da procriação sem união sexual oriunda
da biotecnologia reprodutiva da reprodução in vitro e da inseminação com
doador, a busca pelo prazer perfeito e o medo da contaminação pela AIDS.
Atualmente, o sexo é algo presente em
cem por cento do tempo e nossas crianças e jovens, recebem as mais diversas
informações, dos mais variados campos do conhecimento e das mais variadas
perspectivas morais e éticas.
Entretanto, o que mais está
preocupando, pais e educadores, seja a extrema exaltação do valor do gozo que
transformou o direito a uma liberdade de expressão sexual, uma dependência,
numa obrigação. Nas palavras de Catonné, "teríamos transformado a liberdade
sexual numa penosa coação" (2001.p. 91). E que pode estar associado às
altas taxas de gravidez na adolescência e de abortos.
Diante de tudo isto, os países do
mundo todo, seguindo uma orientação da Organização Mundial de Saúde, estão
buscando introduzir desde os meados dos anos 90, nos sistemas educacionais, um
espaço onde os jovens e adolescentes possam discutir a sexualidade humana de
maneira crítica com o propósito de auxiliá-los nas suas próprias atitudes
sexuais, porque o uso desta liberdade conquistada a duras penas pela
humanidade, pelo menos no mundo ocidental, exige uma atitude responsável de
todos.
Os
Parâmetros Curriculares Nacionais e a sexualidade: entre o discurso e a prática
A proposta da inclusão deste tema na
escola, como vimos, veio junto com os movimentos sociais e com a abertura
política, que entre outros avanços, propunham repensar o papel da escola e os
conteúdos abordados por ela. Entretanto, ainda que fossem essas as intenções,
pouca coisa mudou na prática, como veremos no decorrer deste estudo.
Na década de 80, os trabalhos na área
de sexualidade nas escolas aumentaram devido ao grande número de ocorrências de
gravidez precoce e/ou indesejada e o risco da contaminação de DST's – Doenças
Sexualmente Transmissíveis - entre os jovens. E diante a dificuldade que as
famílias apresentavam em abordar estas questões, os próprios pais requereram a
educação sexual nas escolas de nosso país. Apesar da discussão em torno desta
questão ser considerada por muitos, pouco abrangente e até mesmo imposta por
determinados grupos minoritários, como os movimentos homossexuais, resultando
numa franca resistência ao tema, por parte de pais e de instituições de ensino.
Entretanto, como educadores, devemos
considerar que a educação sexual da criança não ocorre apenas em um período
letivo, mas sim no decorrer de todo o seu desenvolvimento, por meio da
observação das pessoas de seu convívio social (família, amigos, professores,
etc.).
Além disso, a mídia também exerce
grande influência sobre os jovens e adolescentes, já que ajuda a moldar visões
e comportamentos, por meio de propagandas que não são em sua maioria, nem
educativas, nem sempre dirigidas e adequadas a esse público, moralizando ou
reforçando preconceitos e sempre tendo um apelo consumista da própria sexualidade.
Devemos ter em mente que a sexualidade
se manifesta em todos os meios de convívio do jovem e do adolescente e desta
forma a escola também interfere nessa sexualidade em formação, mesmo que assuma
ou não o papel de responsável pela educação sexual do aluno. Tanto ao oferecer
esta educação, como ao ignorá-la e reprimir as dúvidas e manifestações sexuais
de seus alunos, a ação social deste ambiente institucional não tem como ser
negado.
Desta forma, os PCN’s – Parâmetros Curriculares Nacionais, elaborados
em 1996 pelo Ministério da Educação, com apoio de diversos especialistas,
propõem que a orientação sexual seja trabalhada como um tema transversal. Isto exigiria um trabalho integrado de
diversos professores, em que questões ligadas à sexualidade fossem abordadas
transversalmente em todos os ciclos de escolarização, e não como conteúdo
específico de uma única disciplina em um único ano escolar.
Isto
implica que o conteúdo de Orientação Sexual, como é definido nos PCN’s ( denominação
renegada por diversos autores sérios deste tema e opinião compartilhada por
este grupo) deverá ser trabalhado por todas as demais
disciplinas ditas fixas, como matemática, português, história, etc. tenham que
contê-la, de alguma forma.
Para isto, eles trazem exemplos de
como trabalhar esta questão nas escolas dando exemplos de atividades
pedagógicas em que as questões como os princípios democráticos como dignidade,
igualdade de direitos, participação e co-responsabilidade sejam também trabalhadas
conjuntamente com este tema.
Como exemplo de sugestões destas
atividades extraídas dos PCN’s, temos:
Matemática – Pesquisar com os alunos
dados estatísticos sobre a Aids em diferentes populações e locais.
História – Incluir conteúdos sobre
sexualidade em diferentes culturas, tempos, lugares e a história das mulheres,
suas lutas pela conquista de direitos nas diversas partes do mundo.
Ocorre, no entanto, que esta proposta,
na prática, tem se demonstrado ser uma implementação difícil de ser realizada,
nas escolas, para não dizermos, quase impossível. Em parte, como uma forma de
resistência dos educadores de outras áreas em trabalhar esta questão, devido à
dificuldade pessoal de lidar com a ela, quanto a questões ligadas a crenças e
valores pessoais dos professores que interferem diretamente na maneira como
percebem a necessidade deste tipo de educação entre as crianças e jovens.
Um exemplo esta resistência retiramos
do trabalho das professoras Camargo e Ribeiro, onde uma professora de Educação
Infantil afirma: "Eu não tenho coragem de falar os nomes das partes
íntimas pra ninguém, muito menos para meus filhos" (CAMARGO e RIBEIRO,
1999, p. 56). Segundo as mesmas autoras, este episódio entre outros são
"muito freqüentes na prática educativa e refletem a ansiedade, o
desconforto e as atitudes inadequadas em relação às curiosidades e às
manifestações sexuais das crianças" (CAMARGO e RIBEIRO, 1999, p. 56). E o
mesmo ocorrer com relação aos adolescentes e aos jovens.
Entretanto, devemos tomar consciência
como educadores que somos que a proposta de trabalharmos em sala de aula, os
conteúdos da Educação Sexual, independente de nossa especialidade e visa
atender e contribuir para a prevenção de problemas graves como o abuso sexual,
gravidez indesejada, contaminação por doenças venéreas, entre nossos alunos.
As informações corretas sobre a
sexualidade humana e suas implicações aliadas ao trabalho de auto-conhecimento
e reflexão sobre a própria sexualidade ampliam a consciência sobre os cuidados
necessários para a prevenção desses problemas.
A seguir traremos resumidamente o que
os PCN’s falam a respeito da sexualidade humana.
Sexualidade
na infância e na adolescência para os PCN´s
Segundo os estudos sobre a
sexualidade, os contatos de uma mãe com seu filho despertam nele as primeiras
vivências de prazer. Essas primeiras experiências sensuais de vida e de prazer
não são essencialmente biológicas, mas se constituirão no acervo psíquico do
indivíduo. Essas experiências serão como o embrião da vida mental no bebê.
A sexualidade infantil se desenvolve
desde os primeiros dias de vida e segue se manifestando de forma diferente em
cada momento da infância. A sua vivência saudável é fundamental na medida em
que é um dos aspectos essenciais de desenvolvimento global dos seres humanos.
A
sexualidade, assim como a inteligência, será construída a partir das
possibilidades individuais e de sua interação com o meio e a cultura, como
vimos na exposição da teoria vygotskyana. Os adultos reagem de uma forma ou de outra, aos primeiros
movimentos exploratórios que a criança faz em seu corpo e aos jogos sexuais com
outras crianças.
As crianças recebem então, desde muito
cedo, uma qualificação ou "julgamento" do mundo adulto em que está
imersa; permeado de valores e crenças que são atribuídos à sua busca de prazer,
o que comporá a sua vida psíquica.
Nessa exploração do próprio corpo, na
observação do corpo de outros, e a partir das relações familiares é que a
criança se descobre num corpo sexuado de menino ou menina. Preocupa-se então
mais intensamente com as diferenças entre os sexos, não só as anatômicas, mas
também com todas as expressões que caracterizam o homem e a mulher.
A construção do que é pertencer a um
ou outro sexo se dá pelo tratamento diferenciado para meninos e meninas,
inclusive nas expressões diretamente ligadas à sexualidade e pelos padrões
estabelecidos do que é ser feminino ou masculino, socialmente.
Esses padrões são oriundos das
representações sociais e culturais construídas a partir das diferenças
biológicas dos sexos e transmitidas através da educação, o que atualmente
recebe a denominação de relações de gênero. Essas representações absorvidas são
referências fundamentais para a constituição da identidade da criança.
Em relação à puberdade, as mudanças
físicas incluem alterações hormonais que, muitas vezes, provocam estados de
excitação incontroláveis, ocorre intensificação da atividade masturbatória e
instala-se a função genital. É a fase das descobertas e experimentações, são
pertinentes as explorações da atração e das fantasias sexuais com pessoas do
mesmo sexo e do sexo oposto. A experimentação dos vínculos tem relação com a
rapidez e a intensidade da formação e da separação de pares amorosos entre os
adolescentes.
É uma questão bastante atual e
presente no cotidiano de todos os profissionais da educação a postura a ser
adotada, dentro das escolas, frente às manifestações da sexualidade dos alunos.
Daí, a presente proposta de trabalho dos PCN’s que legitima o papel e delimita
a atuação do educador neste campo.
Objetivos
gerais da Orientação Sexual segundo os PCN’s
O objetivo do trabalho de Orientação
Sexual é contribuir para que os alunos possam desenvolver e exercer sua
sexualidade com prazer e responsabilidade. Esse tema vincula-se ao exercício da
cidadania na medida em que, de um lado, se propõe a trabalhar o respeito por si
e pelo outro, e, por outro lado, busca garantir direitos básicos a todos, como
a saúde, a informação e o conhecimento, elementos fundamentais para a formação
de cidadãos responsáveis e conscientes de suas capacidades.
Assim,
o tema Orientação Sexual deve se organizar para que os alunos, ao fim do ensino
fundamental, sejam capazes de:
respeitar a diversidade de valores,
crenças e comportamentos existentes e relativos à sexualidade, desde que seja
garantida a dignidade do ser humano;
compreender a busca de prazer como uma
dimensão saudável da sexualidade humana;
conhecer seu corpo, valorizar e cuidar
de sua saúde como condição necessária para usufruir de prazer sexual;
reconhecer como determinações culturais
as características socialmente atribuídas ao masculino e ao feminino,
posicionando-se contra discriminações a eles associadas;
identificar e expressar seus
sentimentos e desejos, respeitando os sentimentos e desejos do outro;
proteger-se de relacionamentos sexuais
coercitivos ou exploradores;
reconhecer o consentimento mútuo como
necessário para usufruir de prazer numa relação a dois;
agir de modo solidário em relação aos
portadores do HIV e de modo propositivo na implementação de políticas públicas
voltadas para prevenção e tratamento das doenças sexualmente
transmissíveis/AIDS;
conhecer e adotar práticas de sexo
protegido, ao iniciar relacionamento sexual.
evitar contrair ou transmitir doenças
sexualmente transmissíveis, inclusive o vírus da AIDS;
desenvolver consciência crítica e
tomar decisões responsáveis a respeito de sua sexualidade;
Decorrente de tudo que já foi exposto
até aqui, entendemos que o tema sexualidade está cada vez mais fazendo parte do
ambiente escolar e que é um tema difícil de ser tratado, se comparado com os
demais temas transversais propostos pelos PCN’s como a violência, as drogas e
as bebidas.
E como é explicitado pelos PCN’s, numa
clara situação de Freud sobre a sexualidade em uma de suas conferências aos
americanos sobre "A vida sexual dos seres humanos" entre os anos de
1916-1917, sabemos hoje, que a
sexualidade não surge somente na adolescência como se pensava até o início do
século XX, mas está presente desde o nascimento das crianças quando estas
apresentam atividades auto-eróticas, como já mencionamos ao resumir a teoria e
a contribuição freudiana para o nosso tema.
A questão que queremos retomar neste
momento de nosso trabalho, pode ser resumida pelo pronunciamento realizado por
Freud numa destas conferências:
"Se, de fato, vocês não
acreditassem na sexualidade desde a infância, por que haveriam de estar
constantemente reprimindo as crianças nas escolas, no lar e nas prescrições de
condutas saudáveis? E, além disso, se não nos lembramos de nós, na mesma idade,
é porque fomos também reprimidos!" (apud GUIRADO, 1997, p.?).
Esta questão retórica de Freud se faz
pertinente neste ponto de nossa exposição, para dirigirmos nossas reflexões
sobre as atuais dificuldades dos educadores em abordarem os conteúdos da
educação sexual apesar de toda a argumentação colocada através dos objetivos
dos PCN’s quanto à importância e urgência do trabalho pedagógico sobre esta
temática.
Uma hipótese apontada para elucidar
esta resistência do professorado, é sugerida nos estudos feitos por Foucault,
no início dos anos 80 e que também já foram mencionados.
Retornando a proposta foucaultiana
sobre a sexualidade, esta não é nada mais do que o sexo no discurso. Assim, o
que é reprimido passa a ser objeto de retórica, e assim torna-se permitido, não
a sua prática, mas o seu discurso.
Desta forma, os professores, tanto os
que trabalham a questão somente como forma de discurso ou os que não trabalham,
na realidade só estariam contribuindo para a repressão da sexualidade de seus
alunos. Em nada estão contribuindo para uma educação sadia sobre a temática.
Diante desta contestação, o que fazer? Como agir? Qual a postura deveria ter o
professor diante desta temática?
Uma
proposta sobre a prática da educação sexual em nossas escolas
No estudo realizado por Guirado, ela
cita um exemplo nem um pouco ortodoxo, mas que revolucionou segundo a sua
opinião, o modo como a questão da sexualidade foi discutida, não somente nas
escolas, mas nas famílias.
A autora trata do fenômeno musical
"Mamonas Assassinas", grupo de rock-pop nacional dos meados dos anos
90 que com muita irreverência cantavam a subjetividade nacional sobre diversos
temas, e entre eles, o mais tratado, a sexualidade.
Ela
ressalta em seu estudo a forma com os integrantes deste grupo, falaram de
questões ligadas à sexualidade, utilizando palavras como: suruba, cabelos do
saco, bunda, putaria, pinto, tesão, teta, cu, etc.
Na visão da autora, a questão de
gênero era tratada com naturalidade, nas letras das músicas, de tal modo que
para um menino era possível dançar rebolando ao som da música "Robocop
Gay" sem que este ato o identifica-se como homossexual ou propenso a este
comportamento. Da mesma forma, as músicas do grupo permitiram as meninas de
séries primárias a cantar com trejeitos românticos letras como: "minha
brasília amarela/ tá de portas abertas/ pra mode a gente se amar/ peladios em
Santios". Numa clara conotação sexual, onde a "brasília" é uma
metáfora do corpo feminino preparado para o coito. Com eles, diz a autora, na
boca e no corpo tudo pode.
Segundo a autora, era uma
descompressão geral. Nas escolas, nas ruas, em casa, na frente de pai e mãe,
nas boates. Nada era vergonhoso. Um pouco atônitos, em principio, os mestres
tentaram frear este movimento com uma cara de zanga, mas logo aderiram ou pelo
menos, fingiram não ouvir seus filhos em tão barulhenta autoconfissão, deixando
cair as máscaras.
Guirado comenta que, nesta época, foi
interessante observar nas escolas os professores procurarem com seus alunos os
significados de palavras como: porreta, porra, veado, suruba. Porém, o mais
impressionante foi ouvir das crianças, questionadas sobre o que mais gostavam
neles, por ocasião do trágico fim do grupo, apontarem o mesmo motivo: a
oportunidade de dizer nas palavras e nas melodias dos Mamonas aquilo que, por
elas e por seus adultos, jamais se autorizariam dizer.
Esse exemplo nos faz pensar que, o que
daria em parte razão a Freud é que aquilo que se reprime, quando devidamente
agenciado, como diria Foucault, alastra-se no discurso e, por ele, tem um lugar
a céu aberto.
O que a escola pode fazer diante
disso? De acordo com a autora nada, ou, quase nada diretamente. A autora
comenta que a sexualidade e o desejo, por definição não se deixam capturar
absolutamente pelas malhas da disciplinarização generalizada. Não se deixam
ensinar como matéria de currículo, ainda que isto seja tentado, e ainda
questiona: "Que distância existe entre os desenhos assépticos dos ciclos
reprodutivos dos animais, por sua vez, e os trejeitos e rabiscos reais ou
imaginários que os versos dos Mamonas permitem?" (Guirado, 1997, p.44).
Não há como fechar os olhos para a
sexualidade, na escola ela aparece nos banheiros, nos corredores, na saída da
aula. Por isso, na opinião da autora, fazem entrar em cena as aulas de
orientação sexual: ora com a formalidade do ensino, ora com os grupos de
discussão sobre sexualidade.
Enfim, definir uma especificidade
seria equivalente a impedir que a escola abrisse suas asas sobre as conquistas
sociais ou se deixasse ser atravessada por elas. Assim, questiona a autora, por
que não tratar também da sexualidade, aproveitando dos recursos melhorados da
psicologia dos grupos e até da computação gráfica?
Será
que sexo se aprende na escola? Como?
A questão proposta como sub-título
desta parte do texto é pertinente se nos lembrarmos que no final do século XX,
as informações sobre a sexualidade correm à solta entre os jovens por meio de
vários veículos, entre eles a escola.
Há muito tempo, a escola veicula as
informações biológicas sobre a sexualidade: na disciplina ciências ou biologia,
um dos objetivos é o de o aluno conhecer a anatomia e a fisiologia do corpo
humano. O aparelho reprodutor é apresentado nos mínimos detalhes. Mas o que
acontece com as informações, preciosas para a vida prática dos jovens, sobre o
corpo, no que diz respeito à sexualidade?
A pesquisadora Sayão comenta em seu
estudo "Saber o sexo? Os problemas da informação sexual e o papel da
escola", da dificuldade que muitos professores têm em transmitir tal
conteúdo para seus alunos. E questiona: por que tal dificuldade?
Ela diz que isso começa pelas reações
dos alunos: sorrisinhos maliciosos, piadinhas e perguntas indiscretas, que
intimidam o pobre do professor que nunca pensou ser este aspecto humano,
propósito de uma aula. Outro fator é a linguagem que, sempre, além de expressar
um pensamento, veicula também um estilo: o de quem fala. Raramente o estilo
muito particular de quem ouve é considerado. Outra é que cada um interpreta a
informação de um jeito. Bem, além disso, temos a escola com suas regras e
normas sobre as condutas sexuais, que se constituem em uma proposta nem sempre
clara (ao contrário, muitas vezes contraditória) de educação sexual.
Às vezes pode ocorrer um grande
engano, diz Rosely: o de que quaisquer informações sobre a sexualidade, que são
veiculadas na escola, assumirem valor educativo sem necessariamente o sê-lo.
Isto porque em tempo de AIDS e de
crescimento da gravidez precoce, os pais e educadores preocupam-se em
transmitir todas as informações que julgam necessárias aos adolescentes, muitas
vezes forçando as escolas assumirem conscientemente as suas responsabilidades
sociais através da prática da "orientação sexual", porém todos estes
esforços não conseguem atender as expectativas esperadas.
A questão colocada pela autora é
exatamente esta contradição, como pode esta geração ser a que mais informação
tem sobre o corpo, o aparelho genital e seu funcionamento, ser a que mais
apresenta índices de gravidez precoce, infecção por DST’s e outros problemas
contemporâneos relacionados com a sexualidade? Por que se abriu um espaço
enorme entre o saber e o agir? Só a título de exemplo, o número de natalidade
entre os jovens de 14 a 19 anos cresceu nos últimos vinte anos, o que a faz
questionar o que diferencia uma informação de uma informação educativa?
Para a pesquisadora, a chave para
estas questões passa pelo reconhecimento do interlocutor a quem se dirige a
informação. Quem é esse adolescente afinal? Como dar a qualidade educativa às
informações sobre a sexualidade dirigida a essas pessoas considerando as
características da sua idade e outras ainda, como a classe social e econômica,
o meio cultural, familiar e regional?
Após a realização de sua pesquisa, a
autora defende que as informações sobre sexualidade só serão educativas quando
tiverem o endereço postado corretamente. E com o remetente identificado e
devidamente qualificado.
Entretanto, o que hoje ocorre na
maioria das escolas se dá mais ou menos assim: os alunos levam o assunto para
sala de aula e cada professor se vira de acordo com sua experiência pessoal,
norteado, geralmente por informações colhidas em breves cursos ou palestras.
Mas isso não é o ideal, muitas vezes essas informações até atrapalham.
Um exemplo real para ilustrar esta
questão foi recolhido por Sayão no decorrer da pesquisa. Uma menina de 14 anos
pergunta para sua professora em sala de aula o que é um aborto, e logo a
professora responde: "É o assassinato de um filho". Será esta a
melhor maneira para o(a) professor(a) trabalhar esta questão? Com certeza ela
não fez este comentário por mal, mas então qual seria a resposta certa? Bastava
ter dito que aborto é a interrupção de uma gravidez.
Para Rosely são os professores que
poderão contribuir para que seus alunos tenham uma visão positiva e responsável
da sexualidade já que são eles que mantém uma relação de grande proximidade com
os alunos. Ela acredita também que as escolas devem perder um estereótipo muito
difundido: o de que o professor de biologia é aquele que mais reúne condições para
atender mais de perto à demanda dos alunos com as questões da sexualidade. E na
ausência deste, ultimamente o professor de educação física tem recebido este
encargo.
Trabalhar a sexualidade na escola, ou
melhor, aprender sexo na escola, não tem nenhuma relação com a especialização
do professor. O necessário é que a pessoa encarregada deste ensino possa
estabelecer uma relação de confiança com os alunos sem criar cumplicidades; ver
se a pessoa consegue suspender seu juízo de valor quando conversa com os jovens;
se é capaz de ouvir antes de falar, sempre mantendo a posição de assimetria com
os alunos, requisito indispensável para que a angústia do jovem se expresse.
Além disto, a autora aponta que uma
boa parceria da escola com os pais é fundamental, para o sucesso da educação
sexual. Cabe à escola saber reconhecer que cada família tem seus valores, que
são transmitidos para os filhos, buscando não causar desavenças entre pais e
filhos com relação a esta questão.
E sempre ter consciência de que mesmo
cumprindo o seu papel com responsabilidade e competência, a escola tem seus
limites no trabalho de informar os alunos e auxiliá-los a terem seus próprios
valores na vida sexual, sabendo respeitá-los com coerência.
Em relação à mídia no que se refere às
informações sexuais, a autora acredita que dá para aproveitar muito pouco do
que é exibido e produzido. E conclui sua pesquisa afirmando que os adultos que
tem uma relação significativa com os jovens, entre eles os professores e demais
profissionais da escola, podem dialogar sobre a sexualidade, esclarecer algumas
dúvidas e, principalmente, permitir que eles queiram saber. Tudo isso desde que
esses adultos queiram e se preparem para isso. O que não se pode é contribuir
para que o jovem tenha a ilusão do saber. Saber tudo sobre sexo? Jamais!
A
deseducação sexual em nossas escolas
Será que as idéias e as posições
progressistas das professoras Guirado e Sayão, ainda são utopias em nosso
ensino? Se os são por que o são? Diz Bernardi que ainda vivemos numa sociedade
sexofóbica, na qual o sexo é vergonhoso, sujo e errado. E, infelizmente, nossas
escolas ainda refletem esse pensamento conservador predominante. A educação
como dirigida à livre evolução da personalidade e uma procura crítica dos
comportamentos éticos é ainda teoria, esperando para ser de toda colocada em
prática.
Seguindo este raciocínio, temos que a
nossa educação, e também a nossa educação sexual, seguindo os velhos moldes
conservadores que persistem em nossa sociedade e que a entende por "um
processo que molda no aluno a maneira como prepara-lo para viver em harmonia
com as regras codificadas da sociedade a qual está inserido." (Bernardi,
1977).
Nossas crianças são impedidas de
conhecer-se, de tocar-se. A partir do momento em que isso acontece, ela passa a
sofrer intervenções diretas da sociedade, através dos adultos, para que reprima
estes seus atos, gestos, perguntas, curiosidades sobre o sexo. O sexo deixa de
ser algo natural e essencial tanto quanto o ato de se alimentar e se lavar para
ser algo extremamente obscuro, vergonhoso e até mesmo medonho.
Tudo isso está refletido na educação
sexual. Na escola, não se fala de sexo, propriamente dito, pelo contrário, o
sexo na grande maioria das escolas se torna muito semelhante a uma aula de
botânica, na qual os assuntos como o prazer, são totalmente excluídos.
Para este autor "geralmente as
lições ou os encontros dedicados à educação sexual percorrem dois caminhos, o
da informação biológica e o do elenco de normas, preceitos morais, juízos sobre
o que é lícito. (...) Explicar minuciosamente às crianças o ciclo da ovulação,
a espermatogênese, a fecundação, o aninhamento do óvulo fecundado e seu
sucessivo desenvolvimento, equivale a fornecer-lhes uma imagem da sexualidade
humana não apenas atrozmente fastidiosa, mas também muito próxima àquela das
funções reprodutivas dos animais e vegetais." (Bernardi, 1985, p.?)
Vemos então que a repressão torna-se o
instrumento primário da educação sexual, quando essa deveria nos libertar da
angústia de uma sexualidade frustrada e reprimida, valorizando seus pontos
positivos. Pelo contrário, a educação sexual, como se tem hoje acaba por
legitimizar todo o mistério, a angústia, o medo, e qualquer outro sentimento
negativo que possa estar relacionado ao sexo. Temas como masturbação, orgasmo,
e mesmo homossexualidade são excluídos do vocabulário escolar. Como
conseqüência, temos o sexo como um bicho de sete cabeças.
Entretanto,
como educadores, devemos estar atentos para a forma como lidamos como a
educação sexual na escola porque todo e qualquer problema referente ao sexo não
deriva da sexualidade, mas sim de sua negação. Se o sexo fosse tratado com
respeito, clareza, e normalidade esse não seria um tema tão assustador e
desconfortável tanto para quem fala quanto para quem ouve, seria apenas mais
uma atividade natural do ser humano.
Como aumentar o penis
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