Resumo - Desenvolvimento da Sexualidade de Freud, Vygotsky e Piaget




Desenvolvimento da Sexualidade de Freud, Vygotsky e Piaget


As descobertas de Freud sobre a sexualidade infantil provocaram espanto na sexualidade conservadora do final do século XIX, pois nesta época a criança era vista como símbolo de pureza, um ser assexuado. Ao longo dos anos, a sociedade vem, pouco a pouco, se familiarizando e compreendendo as diferentes formas de expressão da sexualidade infantil. Sexualidade que evolui, com etapas de desenvolvimento que Freud denominou de fase oral, anal, fálica, latência e genital. 

           Encontramos pais que se espantam ao se defrontarem com filhos se masturbando, ou que explicam com meias verdades as clássicas perguntas infantis sobre a origem dos bebês. Sexualidade na criança nasce masculina-feminina, macha ou fêmea, futuramente que será homem ou mulher. Durante a infância ocorre desenvolvimento de jogos corporais aonde as crianças vão se descobrindo e amadurecendo.

           Reconhecida como um instinto que as pessoas nascem
expressando-se de formas distintas de acordo com as fases do desenvolvimento que são: fase oral; fase anal; fase fálica e período de latência.

Fase Oral

Na fase oral de 0 a 1 ano a região do corpo com maior prazer na criança é a boca, onde entra em contato com o mundo. É por esta razão que a criança pequena tende a levar tudo o que pega à boca. O principal objeto de desejo nesta fase é o seio da mãe, que além de alimentar proporciona satisfação ao bebê.

Fase Anal

           Fase anal de 2 a 4 anos, período que a criança passa a adquirir controle dos esfíncteres - a zona de maior satisfação é a região do anus; descobre que pode controlar as fezes que sai de seu interior,
oferecendo-o à mãe ora como um presente, ora como algo agressivo. É aí que a criança começa a ter noção de higiene; fases de birras. 

Fase Fálica

Fase fálica de 4 a 6 anos - a atenção da criança volta-se para a região genital. Inicialmente a criança imagina que tanto os meninos quanto as meninas possuem um pênis e defrontadas com as diferenças anatômicas entre os sexos, as crianças criam as chamadas teorias sexuais infantis, imaginando que as meninas não tem pênis porque este órgão lhe foi arrancado (complexo de castração). É neste momento que a menina tem medo de perder o seu pênis. Surge aí o complexo de Édipo, em que o menino apresenta atração pela mãe e se rivaliza com o pai, e na menina ocorre o inverso.

Fase de Latência

Fase de latência de 6 a 11 anos. Este período caracteriza-se pelo deslocamento da libido da sexualidade para atividades socialmente aceitas, ou seja, a criança passa a gastar sua energia em atividades sociais e escolares.

Fase da Adolescência

Fase genital, a partir de 11 anos. Início da adolescência, há uma retomada dos impulsos sexuais, o adolescente passa a buscar, em pessoas fora de seu grupo familiar, um objeto de amor. Adolescência é um período de mudanças no qual o jovem tem que elaborar a perda da identidade infantil e dos pais da infância para que pouco a pouco possa assumir uma identidade adulta. 





Fase Oral
A Boca é o primeiro objeto de ligação infantil, pela boca a criança explora o mundo.
fase Anal (1 a 3 anos)                                 Fase Fálica (3 a 6 anos)
Os pais que utilizam elogios e recompensas para usar o banheiro no momento oportuno incentivam resultados positivos e ajudam as crianças a se sentir capazes e produtivas. Freud acreditava que experiências positivas durante este estágio servem de base para que as pessoas tornem-se adultos competentes, produtivos e criativos.           Na Fase fálica a criança começa a ter  interesse pelos órgãos genitais, cuja manipulação se torna frequente e há uma preocupação com as diferenças sexuais entre meninos e meninas. Freud também acreditava que os meninos começam a ver seus pais como rivais pelo afeto da mãe. O complexo de Édipo descreve esses sentimentos de querer possuir a mãe e o desejo de substituir o pai. No entanto, a criança também teme ser punida pelo pai por estes sentimentos, um medo que Freud denominou de angústia de castração.                          
Período de Latência
A erotização corporal está sublimada e toda a libido está projetada para fora do corpo da criança, em seu desenvolvimento intelectual e social. período de latência caracteriza-se pela canalização das energias sexuais para o desenvolvimento social ( diminuição das atividades sexuais)por meio das sublimações e consiste em um período intermediário entre a genitalidade infantil (fase fálica) e a adulta (fase genital). Durante esta fase, o superego continua a se desenvolver, enquanto as energias do id são suprimidas. As crianças desenvolvem habilidades sociais, valores e relacionamentos com colegas e adultos fora da família.
Fase Genital
momento em que o sujeito atingiu o pleno desenvolvimento do adulto normal, no qual as adaptações biológicas e psicológicas foram realizadas. o sujeito desenvolveu-se intelectual e socialmente, é capaz de amar, estabelecer um vínculo afetivo.

Sobre a sexualidade, assinale a alternativa correta:
Os adolescentes testam, questionam e tomam como referência a percepção que têm da sexualidade de seus professores, por vezes desenvolvendo fantasias, em busca de seus próprios parâmetros.
Para Piaget, a trajetória do desenvolvimento intelectual, do pensamento sensório-motor às operações formais, é acompanhada pelo desenvolvimento do indivíduo quanto:
à sociabilidade.
A teoria freudiana sobre a sexualidade infantil foi formulada com base em:
memórias adultas.
O componente biológico da sexualidade do ser humano é determinado:
na fecundação.
Sobre conceitos em sexualidade, marque a resposta INCORRETA.
Os transgêneros são aqueles que se identificam com seu sexo biológico e optam por não fazer nenhuma alteração física, podendo, por exemplo, se limitar a usar as roupas do outro sexo. 
Segundo a teoria da sexualidade descrita por Freud em 1905, existe uma sexualidade infantil, cujas características são
nasce apoiada em uma função somática vital; é auto-erótica; tem seu alvo sob o domínio de determinada zona erógena
O conceito de transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares é diretamente comparável ao dos transtornos específicos do desenvolvimento da 
fala e linguagem.
Quanto à postura dos educadores com relação ao trabalho da sexualidade na escola, assinale a alternativa INCORRETA.
O professor conduz e orienta o debate e emite opiniões pessoais.

Assinale a alternativa correta. Sigmund Freud, na obra A psicopatologia da vida cotidiana (Zur Psychopathologie des Alltagslebens), de 1901, aborda essencialmente os seguintes temas:
Esquecimentos, lapsos e atos falhos.
Segundo Alberti (2009), os trabalhos psicanalíticos sobre a adolescência admitem que, de modo geral, há uma _________________________ na infância e que a adolescência introduz a ____________________. Assim, esses trabalhos procuram seguir a trilha deixada por Freud, levantando a questão da puberdade na adolescência, mas também raciocinam com base no modelo dos estados, como se a sexualidade humana dependesse de um evolucionismo darwiniano.

sexualidade pré-genital / sexualidade genital.
Freud inaugurou uma perspectiva sobre a sexualidade infantil irredutível à dimensão cronológica presente na maioria das teorias evolucionistas sobre a criança. Segundo o pai da psicanálise, o caráter infantil da sexualidade comparece na vida adulta. Em sua origem, a sexualidade infantil está submetida à atuação das pulsões parciais, ligada à diversidade das zonas erógenas, cuja disposição é descrita como: 
perverso-polimorfa;
Ao desenvolver a psicanálise, Freud teorizou sobre a sexualidade e suas manifestações presentes desde a infância. Ele identificou que o desenvolvimento da sexualidade ocorre em fases – oral, anal, fálica, período de latência e fase genital, cujo conjunto irá refletir na formação da sexualidade do adulto. Sobre essas fases, é correto afirmar:
A fase anal acontece por volta de um ano e meio a dois anos e é a fase em que se inicia o controle dos esfíncteres. Urinar e evacuar geram grande prazer às crianças.
O superego é uma das instâncias da personalidade que Freud descreveu no quadro de sua segunda teoria do aparelho psíquico, sendo o seu papel assimilável ao de um juiz ou censor inexorável. Por constituir-se através da interiorização das exigências e interdições parentais, o superego é definido classicamente como herdeiro:
do complexo de édipo;
“Sua majestade, o bebê” é a expressão encontrada por Freud (1914) para designar o investimento libidinal dos pais sobre a criança na formação de seu ego. Mais do que simplesmente uma fase evolutiva, corresponde a uma estase da libido que nenhum investimento de objeto permite ultrapassar completamente. Para tanto, Freud lança o conceito de
narcisismo.
Segundo Freud,
em face do paciente, o analista se depara com a regra fundamental da análise: o paciente dizer o que sabe e o que não sabe na associação livre.
Associação livre= Em psicanálise, o relato do paciente para o analista de cada pensamento que lhe vem à cabeça. 

Para Freud, os conteúdos do id
 incluem configurações mentais que nunca se tornaram conscientes, assim como o material que foi considerado inaceitável pela consciência.
O ID refere-se à parte inacessível da personalidade. Corresponde ao conceito inicial de inconsciente, apesar de também o ego e o superego possuírem aspectos inconscientes. Além disso, o ID é o reservatório das pulsões ( tanto de vida quanto de morte) , da energia libidinal.
É ele que satisfaz as exigências do EGO e do Superego, fornecendo toda a energia para eles. Apesar de seus conteúdos serem quase todos inconscientes, o ID tem o poder de agir na vida mental de um indivíduo. 
Características do ID: - Caótico e desorganizado: dessa maneira, não se pode aplicar as leis lógicas do pensamento do ID. Essa condição permite que impulsos conflitantes coexistam, sem que um anule ou diminua o outro.  - Atemporal: essa condição permite que fatos passados e presentes convivam juntamente sem desvantagem de intensidade. - Orientação pelo princípio do prazer: por não levar em conta a realidade, procura não considerar atrasos e adiamentos em favor de reduzir a tensão e, pelo processo primário, buscar satisfação imediata pelos atos reflexos e pelas fantasias.

Embora a primeira determinação do sexo seja de ordem biológica, a sexualidade não pode ser vista como prática que se reduz ao ato sexual.
A sexualidade é vivida no âmbito individual, mas sua constituição nos sujeitos é produzida a partir das normas e valores sociais. Somos seres sociais, nos tornamos humanos nas relações que estabelecemos com a natureza e com os outros homens e, por isto a sexualidade humana é expressão de condições sociais, culturais e históricas nas quais os indivíduos estão inseridos. Por isto mesmo, seu processo constitutivo é passível de ser questionado e transformado.
Neste sentido a orientação sexual abrange “o desenvolvimento sexual compreendido como: saúde reprodutiva, relações interpessoais, afetividade, imagem corporal, auto-estima e relações de gênero. Enfoca as dimensões fisiológicas, sociológicas, psicológicas e espirituais da sexualidade através do desenvolvimento das áreas cognitiva, afetiva e comportamental incluindo as habilidades para a comunicação eficaz e a tomada responsável de decisões. (SUPLICY et al., 2004, p. 26)
Atualmente, tornou-se ponto de concordância a necessidade de se trabalhar com a temática da Orientação Sexual nos diversos espaços onde os jovens se encontram reunidos, sendo a escola eleita como um dos espaços mais importantes para que tal prática se concretize.
A abordagem dos assuntos referentes à sexualidade adotada pela escola deve diferenciar-se da abordagem assistemática realizada pela família. Se por um lado, os pais exercem legitimamente o seu papel aos transmitirem seus valores particulares aos filhos, por outro lado, o papel da escola é o de ampliar esse conhecimento em direção à diversidade de valores existentes na sociedade, para que o aluno possa, ao discuti-los, opinar sobre o que está sendo apresentado (Sayão, 1995).
 O objetivo geral do trabalho de Orientação Sexual é levar informações fidedignas, problematizar, levantar questionamentos de posições estanques e promover a ressignificação das informações e valores incorporados e vivenciados no decorrer da vida de cada criança ou jovem.
Diversos profissionais podem atuar como orientadores sexuais: pedagogos, assistentes sociais, médicos ou psicólogos. Interessa-nos neste artigo apresentar e analisar algumas peculiaridades que permeiam o desenvolvimento deste tipo de trabalho realizado pelo psicólogo.
Acreditamos que a finalidade da Psicologia Escolar situa-se no compromisso claro com a tarefa de construção de um processo educacional qualitativamente superior. Portanto, sua função social é a de contribuir para que a escola cumpra de fato seu papel de socialização do saber e da formação crítica dos indivíduos (Meira, 2003).
Concordamos com Saviani (1992) que o trabalho educativo deve produzir em cada indivíduo singular a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens.
É neste sentido que o psicólogo pode agregar novos valores ao trabalho de orientação sexual, já que sua formação o habilita a compreender os fenômenos psicológicos e os processos que os sustentam, enquanto mediações entre a história social e a vida concreta dos indivíduos; os processos internos através dos quais os homens constroem seu desenvolvimento nos grupos sociais aos quais pertencem; o papel ativo das emoções e do significado que cada indivíduo imprime à sua vida e às ações práticas no mundo, e em especial, aos processos de ensinar e aprender; a relação entre subjetividade e práticas escolares, analisando ao mesmo tempo e dialeticamente os determinantes sociais e as questões próprias de cada sujeito (Meira, 2003).

Sexualidade Humana na perspectiva sócio-histórica de Vygotsky

1. Introdução
Falar sobre a sexualidade humana é buscar entender a gênese do ser humano em seu aspecto mais íntimo e privativo. É penetrar na esfera mais profunda de cada ser.
Este ato nos impulsiona a ter uma postura humilde e de respeitabilidade pelo outro, conciliando a nossa maneira de tratar a questão com uma análise crítica sobre a questão, buscando ampliar nosso entendimento sobre o que é ter comportamentos ‘aceitáveis’ ou ‘normais’ dentro da sexualidade.
Devemos, como educadores sempre nos lembrar que os padrões atuais foram definidos pelas crenças e valores de nossa sociedade no transcorrer de nossa história.
Mas, para podermos ter esta postura, muitas vezes, somos obrigados a iniciar esta reflexão através de nossa própria concepção do que sexualidade. Como vivenciamos a nossa sexualidade? É a pergunta básica para que cada educador possa iniciar-se no estudo desta temática. Outra é: como entendemos a construção do que é definido como sexual diante de todo o conhecimento desenvolvido pela a ciência, a filosofia, a psicologia?
A postura mais comum era do senso-comum que, até recentemente, acreditava na construção de identidade sexual dos indivíduos apenas no respaldo da biologia, onde as características físicas das genitálias humanas eram as únicas definidoras de nossa identidade sexual.
Nenhuma outra forma de pensar esta questão nos era proposto. Muito menos estudar sobre a influência da cultura neste processo de reconhecimento do indivíduo com portador de uma sexualidade, na qual os significados de ser homem ou mulher estariam mais relacionados aos significados dado pelo grupo social do que pelas características físicas.
Esta é uma das maiores contribuições ao tema da sexualidade humana oferecida pela teoria sócio-histórica de Vygotsky. A nossa proposta neste texto é exatamente esta: através dos fundamentos deixados pelo psicólogo russo, esperamos que a sexualidade, o erotismo, o sexo, o amor, o gênero e a educação sexual, possam ser re-significados de forma a contribuir para uma sadia construção da identidade humana, em que o respeito pelo indivíduo esteja acima de qualquer forma de preconceito.

Neste trabalho, entendemos a questão da sexualidade como decorrente de todo o processo de desenvolvimento apresentado pela teoria sócio-histórica proposta por Lev. S. Vygotsky e, através deste, com o diálogo com outros autores, identificar qual é a importância da educação sexual oferecida pelas as nossas escolas e, consequentemente, a ação pedagógica mediada pelos nossos educadores com relação a este tema.
Será que estamos atendendo as expectativas de nossos alunos e de nossa sociedade? Será que estamos contribuindo para a formação sadia da sexualidade de nossos alunos? Ou pelo contrário estamos criando maiores dificuldades?
Tivemos o cuidado de escolher entre os autores renomados dos últimos cem anos de história da Psicologia, como disciplina do conhecimento humano, aqueles cujos trabalhos influenciaram a maneira como nós, atualmente, entendemos a nossa sexualidade e como a escola vê o conteúdo curricular da educação sexual.
Iniciando com o pai da psicanálise, Freud - responsável por tirar do mundo a inocência sobre a sexualidade, preocupamo-nos em focar um pouco, o trabalho de Piaget, por este autor ainda muito influente dentro das práticas pedagógicas e por decorrência, na maneira como abordamos este tema na sala de aula. Entretanto, como nossa proposta é trabalharmos com o argumento sócio-histórico, evocamos os pressupostos do marxista Vygotsky, que nos dá elementos fundamentais para este tipo de interpretação da sexualidade humana. E como não poderíamos deixar de mencionar, por ser atualmente o grande impulsionador desta nova percepção sexual, nos deteremos um pouquinho na proposta de análise de Foucault, em quem os pressupostos levantados pelo estudioso russo ganham uma nova resignificação, difícil de ser negada pelos intelectuais atuais.
Porque é importante a educação sexual? – e através de uma breve reconstrução os grandes movimentos sociais, culturais e políticos pós-1945 na sociedade ocidental, começamos a trabalhar mais diretamente com a nossa pergunta-tema.
Buscamos correlacionar o discurso deste período com o que a lei educacional brasileira, através dos documentos denominados PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais esperam que cada escola realize quanto à educação sexual de nossos jovens. Buscamos também identificar quais são as expectativas e implicações oriundas deste texto sobre a prática pedagógica escolar.
Para reconhecermos quais foram as inovações impulsionadas tanto pela orientação do MEC - quanto pelas pesquisas se propuseram continuaram a trabalhar com a posição de Foucault e Vygotsky, entendemos ser necessário comparamos o antes e depois da educação sexual, evidenciando quais sofram os seus avanços nos últimos anos.
Acreditamos que, conseguiremos atingir o nosso objetivo com este trabalho: provocar no leitor a necessidade de refletir a sexualidade humana e o papel da escola, com a franqueza e clareza que a questão necessita. Somente assim, acreditamos ser possível dar uma formação integral aos futuros concurseiros de nosso país.

2. Sexualidade: um aspecto humano multifacetado
Não temos como contestar que na atualidade os assuntos relacionados ao sexo estão bem mais freqüentes do que há algumas décadas atrás.
A existência deste excesso de discurso sobre a sexualidade humana já deveria fazer dela um tema provocativo de reflexão aos educadores, devido à forma como ela está sendo apresentada e estruturada em nossa sociedade.
É urgente para aqueles que se dispõem a estudar o tema em sala de aula, a formação de uma postura crítica, já que a única característica aparente de toda a sexualidade humana apresentada, principalmente nos discursos das mais diversas mídias, é a dimensão sensual na qual o apelo consumista e hedonista do capitalismo transnacional aposta seus investimentos para aumentar suas margens de lucro, divulgando e criando uma identidade do homem e da mulher que é uma visão reducionista da sexualidade humana, vinculada, apenas e exclusivamente, à busca do prazer individual.
Quando falamos da sexualidade, muitos ouvintes tendem a pensar exclusivamente em sexo, ou seja, no ato sexual propriamente dito. Mas, a sexualidade não é apenas a relação sexual entre um homem e uma mulher, como é tido como normal e aceitável.
Sob esta palavra estão postas questões sobre a formação da identidade sexual humana, digo, questões de gêneros. E através delas podemos ampliar a discussão para pontos tidos ainda como tabus por muitos membros de nossa sociedade, como as relações homossexuais, o erotismo, a sensualidade de cada um, o conhecimento do nosso próprio corpo, que não estão limitadas em saber como ele funciona, mas é um conhecer que explora a formação das diferenças entre o homem e a mulher dentro de um grupo social.
E estas questões sempre estão mediadas por um outro assunto subjetivo e vital para o ser humano – o amor. O que significa amar o outro? Como se ama o outro? Como se relaciona com o outro? Quem é o outro? Ou seja, a sexualidade é uma questão bem mais complexa e multifacetada do que a imaginação popular pressupõe.

E esta abrangência do tema sexualidade já está definida até mesmo nos dicionários mais comuns de nossa língua, quando se lê: "o conjunto dos fenômenos sexuais" logo na primeira entrada.
Podemos então dizer que este é um aspecto da vida que possui alguns níveis ou dimensões e que devem ser bem compreendidos por todos, porque na espécie humana, há diferenciais marcantes porque o ser humano também é um ser social.
Então, quando dizemos o nível biológico-reprodutivo da sexualidade, estamos falando de um aspecto que é comum a todos os seres vivos: homens, animais e plantas, sendo o sexo entendido como o fenômeno reprodutivo e a ênfase da sexualidade está na função dos aparelhos reprodutores naturais ou artificiais.
Geralmente, este nível da sexualidade é objeto de estudo na escola, na disciplina de biologia, e para o senso comum é este o conteúdo que deve ser abordado com o menino ou com a menina quando é "chegada à hora" de ter uma conversa de homem para homem ou mulher para mulher.
Mas, será que aprender sobre os mecanismos biológicos da sexualidade, conhecendo seus aparelhos reprodutores, os ciclos menstruais das fêmeas e as diversas formas de reprodução de vida, é falar da sexualidade humana de uma maneira abrangente e crítica?
Cremos que este tipo de conhecimento diz respeito apenas à sexualidade em sua dimensão biológica, ou seja, é informação básica sobre nosso próprio corpo. Não abrange todo o significado que a sexualidade tem para o ser humano moderno.
Por este motivo, concordando com o prof. César Nunes, devemos considerar que há uma segunda dimensão da sexualidade que é algo exclusivamente humana e decorrente do homem ser um ser social, ou seja, que decorrer das relações sociais profundas que influenciaram todo o processo de desenvolvimento da espécie e que podem ser estudados em profundidade nas obras de Marx e Engels.
Este nível exclusivo da sexualidade humana é denominado de psicossocial porque nele se dá a influência do social sobre o psicológico humano. É onde as diferenças entre os sexos são formadas. Assim, ser homem ou ser mulher decorre de como a sociedade onde o ser está inserido assim determina o que é ser macho e ser fêmea.
Este processo é claramente explicado pela teoria sócio-histórica de Vygotsky, nos seguintes dizeres da pesquisadora Marta Kohl:
"o processo de desenvolvimento do ser humano marcado por sua inserção em determinado grupo cultural se dá ‘de fora para dentro’. Isto é, primeiramente o indivíduo realiza ações externas que serão interpretadas pelas pessoas ao seu redor, de acordo com os significados culturalmente estabelecidos. A partir dessa interpretação é que será possível para o indivíduo atribuir significados a suas próprias ações e desenvolver processos psicológicos internos que podem ser interpretados por ele próprio a partir dos mecanismos estabelecidos pelo grupo cultural e compreendidos por meio dos códigos compartilhados pelos membros desse grupo" (Oliveira, 1993, pp.38-39).

Assim, todas as ações, atitudes, comportamentos, valores, expressões sentimentais, e outros atributos vinculados por uma cultura na sua idealização do que é ser homem ou mulher são utilizados pelo grupo para sinalizar à criança em desenvolvimento como o grupo a identifica sexualmente: se ele é homem ou é mulher.
Por esta razão, consideramos o nível psicossocial como o nível onde, individualmente, formamos a nossa compreensão mental do que constitui e constituirá ser uma mulher ou um homem, utilizando todos estes elementos citados porque são eles os significadores desta representação mental.
Assim, entendemos o porquê da identidade masculina em nossa sociedade estar associada aos atributos de ser forte, seguro e poderoso e o feminismo ser apresentado como um ser dócil, meiga ou temerosa. Essas características não são inatas, nem tampouco, estão prontas nos seres humanos. Elas são adquiridas pelo indivíduo ao longo de seu desenvolvimento e por isto não podemos dizer que são características naturais. Assim, o homem e a mulher só possuem essas características porque são educados para agirem desta maneira. Ou seja, o homem é educado para ser dominador, forte, altruísta, enquanto a mulher é educada para ser submissa e contida.
Desta forma, a atitude dos professores frente à questão sexual na sala de aula pode influenciar na maneira como o menino ou a menina compreendem sua própria sexualidade, o que faz da educação sexual ainda mais importante já que a escola é hoje uma das instituições responsáveis pela educação das novas gerações.
Com o advento das transformações sociais oriundas das transformações econômicas e políticas suscitadas pelo avanço do capitalismo agora em sua forma industrial, ocorrem também profundas modificações de como a sexualidade humana deveria ser desenvolvida, tanto pelos os homens como pelas as mulheres.

Desta forma, a partir do século XIX, é conferida ao homem uma intensa responsabilidade sexual, porque era senso comum, da época, ser sua função controlar o furor sexual da mulher (furor este que está ligado à idéia de luxúria da Alta Idade Média). Eram consideradas também sua responsabilidade, a saúde e a estética dos filhos gerados destas relações sexuais.
Apesar de toda esta pressão social exercida sobre a sua responsabilidade dentro do campo sexual, não era aceito nesta sociedade – muito conhecida como vitoriana, em especial na Inglaterra – a prática da masturbação como forma dos jovens de iniciação era completamente condenada, sendo esta condenação legitimada tanto pelos médicos quanto pela Igreja.
Aliás, a ciência médica deste período se interessa muito pelas práticas sexuais e, principalmente, pelas do leito conjugal. Segundo a medicina, o esperma era considerado como um líquido precioso e, desse modo, aconselhavam a economia desta substância tão rara - defendendo uma política anti-masturbatória - reservando-a somente para a reprodução. Neste ponto, ela se une a Igreja e as finalidades do casamento cristão.

4. A sexualidade na psicologia: várias formas de percepções

Como vimos até aqui, a sexualidade humana é uma bastante complexa e determinada pela interação de múltiplos aspectos correlacionados e que estão à mercê da influente pressão da ação cultural dos diversos setores de nossa sociedade. No decorrer da história da formação do homem contemporâneo ocidental, é justificável, ainda, termos nos nascentes anos do século XXI muitas questões relacionadas com este aspecto da personalidade humana, suscitando dificuldades e confrontos dentro dos diversos setores de nossa sociedade e, em especial, entre os próprios educadores.
Este fato pode estar relacionado com o interesse da ciência pela sexualidade humana ter ocorrido apenas nos últimos anos do século XIX, impulsionado pelos estudos de Freud. Foi a partir desta época que novas perspectivas e abordagens psicológicas foram ganham formas e sendo discutidas tanto nos meios acadêmicos quanto no social.
Assim, para podermos compreender as discussões atuais a respeito da sexualidade e, em especial as que ocorrem dentro do ambiente escolar, é que se faz necessário termos um contato com alguns autores clássicos cujas teorias contribuíram para a formação de nossas diversas perspectivas sobre a sexualidade humana, atualmente.

Para atendermos a esta necessidade, faremos uma breve introdução dos pontos mais relevantes das teorias psicológicas de Freud, Piaget, Vygotsky. E também sobre a teoria do psicólogo, historiador e filósofo, Foucault, que é hoje tido como o autor mais importante na área de estudo sobre a sexualidade, devido aos seus estudos intitulados A história da sexualidade.
Entendemos estes autores como os mais significativos para a construção e elucidação de nossa proposta: por que a educação sexual é importante?
4.1 Freud e a sexualidade da criança: o mundo perde sua inocência
Freud nasceu em Freiberg, Morávia, em 1856. Estudou medicina na Universidade de Viena, direcionando sua pesquisa para a área de psiquiatria. Estudou várias moléstias do sistema nervoso, e entre 1880 e 1890, fixou-se como um neurologista de renome introduzindo explicações funcionais, correlacionando áreas motoras, acústicas e visuais do cérebro.
Seus trabalhos sobre afasia, paralisia infantil, hipertonias nos membros inferiores e, em especial, seu trabalho final sobre a paralisia cerebral infantil, lhe asseguraram um lugar histórico na medicina.
Cabe notar que as teorias científicas, principalmente as voltadas à psiquiatria, desenvolvidas por Freud, surgem influenciadas pelas condições da vida social, política, econômica e nos seus múltiplos aspectos durante determinados períodos de vida do autor.
Conforme Freud avança em suas pesquisas mais a psiquiatria lhe atrai. Assim, temos o primeiro grande conceito por ele desenvolvido - o Inconsciente. Seu pensamento consistia na afirmação de que não há nenhuma descontinuidade na vida mental, desacreditando no acaso dos eventos sucedidos nos processos mentais.
Para ele, sempre há uma causa para cada pensamento, para cada memória revivida, sentimento ou ação. Cada evento mental é causado pela intenção consciente ou inconsciente e é determinado pelos fatos que o precederam (determinismo psíquico). O consciente seria então apenas a ponta do iceberg.
Seus estudos crescem e conforme avançava suas investigações em sua clínica sobre as causas e o funcionamento das neuroses, percebe que havia uma grande relação entre a maioria dos pensamentos e dos desejos reprimidos com os conflitos de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de vida dos indivíduos, isto é, na vida infantil.
Suas descobertas colocam a sexualidade no centro da vida psíquica, de onde advém o segundo conceito mais importante da teoria psicanalítica: a sexualidade infantil. Estas afirmações tiveram profundas repercussões na sociedade puritana da época pela concepção vigente de infância "inocente".
Com sua teoria, Freud afirma que a criança traz consigo ao mundo germes de atividade sexual e que, já ao se alimentar, goza de uma satisfação sexual buscando sempre proporcionar-se do mesmo gozo através da conhecida atividade de "chuchar". Sua teoria mostra que a atividade sexual está presente desde os primeiros anos de vida. Assim a criança passa por um período de florescência (entre 2 e 5 anos), para depois entrar no período denominado por ele de período de latência. Neste, "a produção de excitação sexual de modo algum é suspensa, mas continua e oferece uma provisão de energia que é empregada, em sua maior parte, para outras finalidades que não as sexuais, ou seja, de um lado, para contribuir com os componentes sexuais para os sentimentos sociais, e de outro (através do relacionamento e da formação reativa), para construir as barreiras posteriores contra a sexualidade" (FREUD).
Temos então como principais aspectos da sexualidade infantil:
A função sexual existe desde o princípio de vida, logo após o nascimento e não só a partir da puberdade como afirmavam as idéias dominantes.
O período da sexualidade é longo e complexo até chegar à sexualidade adulta, onde as funções de reprodução e de obtenção de prazer podem estar associadas, tanto no homem como na mulher. Esta afirmação contrariava as idéias predominantes de que o sexo estava associado, exclusivamente a reprodução. A libido, nas palavras de Freud, é a "energia dos instintos sexuais e só deles".
No segundo dos "Três ensaios de sexualidade" das obras completas, Freud postula o processo de desenvolvimento psicossexual. Este processo consistiria em o indivíduo encontrar o prazer no próprio corpo, pois nos primeiros tempos de vida, a função sexual está intimamente ligada à sobrevivência. A satisfação surge mediante a excitação sensorial apropriada das chamadas zonas erógenas, e "provavelmente podem funcionar como tal qualquer ponto da pele e qualquer órgão dos sentidos, embora existam certas zonas erógenas destacadas cuja excitação estaria assegurada, desde o começo, por certos dispositivos orgânicos" (FREUD).
As excitações de todas essas fontes ainda não estão conjugadas, cada qual seguindo separadamente seu alvo, que é meramente a obtenção de certo prazer. Há, portanto, um desenvolvimento progressivo também ligado às modificações das formas de gratificação e de relação com o objeto, que levou Freud chegar às fases do desenvolvimento sexual. Assim temos:

Fase oral (0 a 2 anos) - a zona de erotização é a boca e o prazer ainda está ligado à ingestão de alimentos e à excitação da mucosa dos lábios e da cavidade bucal. Objetivo sexual consiste na incorporação do objeto.

Fase anal (entre 2 a 4 anos aproximadamente) - a zona de erotização é o ânus. O prazer está intimamente ligado ao controle dos esfíncteres (anal e uretral).

Segundo Freud, entre 2 e 5 anos ocorre o Complexo de Édipo, e é em torno dele que ocorre a estruturação da personalidade do indivíduo. "Paralelamente e ambivalentemente ao amor que o menino devota ao pai, fica-lhe dirigido um sentimento mesclado de ódio e temor. A criança configura o desejo de eliminar aquele que lhe impede o acesso a mãe", está assim configurado o triangulo do Complexo de Édipo.
Fase fálica - a zona de erotização são os órgãos sexuais. Desenvolve-se o interesse infantil por eles, e a masturbação torna-se freqüente e normal.
Período de latência - que se prolonga até a puberdade e se caracteriza por uma diminuição das atividades sexuais, como um intervalo. Neste período há uma canalização das energias sexuais para o desenvolvimento social.
Fase Genital - E, finalmente, na adolescência é atingida a última fase quando o objeto de erotização ou de desejo não está mais no próprio corpo, mas em um objeto externo ao indivíduo - o outro. Neste momento meninos e meninas estão conscientes de suas identidades sexuais distintas e começam a buscar formas de satisfazer suas necessidades eróticas e interpessoais.
Temos aqui resumidas as principais partes da teoria sobre a sexualidade de Freud, ressaltando que, "a educabilidade de pessoas jovens chega ao fim quando suas necessidades sexuais surgem em toda a sua plenitude" (FREUD). Durante o período de transição da puberdade, os processos de desenvolvimento somático e psíquico prosseguem por algum tempo sem ligação entre si, até que "uma irrupção de uma intensa moção anímica de amor" (Freud), leva à inervação dos genitais, produzindo uma unidade da função amorosa. Assim caberia aos educadores agir de acordo com sua teoria, deslocando o impacto principal da educação sexual para a infância. De acordo com este, "a pequena criatura, freqüentemente, já esta completa ao redor do quarto ou quinto ano de vida, e, depois disso, simplesmente revela o que já está dentro de si" (FREUD).


4.2 A sexualidade na concepção piagetiana de desenvolvimento

Jean Piaget nasceu no dia 9 de agosto de 1896, em Neuchâtel, na Suíça. Foi um renomado psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Freqüentou a Universidade de Neuchâtel, onde estudou Biologia e Filosofia recebendo seu doutorado em Biologia em 1918, aos 22 anos de idade.
Após formar-se, parte para Zurich, onde trabalhou como psicólogo experimental. Lá freqüentou aulas lecionadas por Jung e trabalhou como psiquiatra em uma clínica. A partir daí começa a combinar a psicologia experimental - que é um estudo formal e sistemático - com métodos informais de psicologia: entrevistas, conversas e análises de pacientes.
Em 1919, inicia seus estudos experimentais sobre a mente humana e começa a pesquisar também sobre o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Seu conhecimento de Biologia levou-o a enxergar o desenvolvimento cognitivo de uma criança como sendo uma evolução gradativa.
Desenvolveu diversos campos de estudos científicos: a psicologia do desenvolvimento, a teoria cognitiva e o que veio a ser chamado de epistemologia genética. A essência de seu trabalho ensina que ao observarmos cuidadosamente a maneira com que o conhecimento se desenvolve nas crianças, podemos entender melhor a natureza do conhecimento humano.
Assim, formulou sua teoria de que o conhecimento evolui progressivamente por meio de estruturas de raciocínio que substituem umas às outras através de estágios. Isto significa que a lógica e formas de pensar de uma criança são completamente diferentes da lógica dos adultos. Esta descoberta cria uma abordagem educacional diferente, modificando a teoria pedagógica tradicional que, até então, afirmava que a mente de uma criança é vazia, esperando ser preenchida por conhecimento.
Na visão de Piaget, as crianças são as próprias construtoras ativas do conhecimento, constantemente criando e testando suas teorias sobre o mundo. Em seu trabalho, identifica os quatro estágios de evolução mental de uma criança. Cada estágio é um período onde o pensamento e comportamento infantil é caracterizado por uma forma específica de conhecimento e raciocínio. São os estágios: o sensório-motor, o pré-operatório, o operatório concreto e o operatório formal.

Sensório Motor (0-2 anos) - A partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio. A inteligência é prática. As noções de espaço e tempo são construídas pela ação. O contato com o meio é direto e imediato, sem representação ou pensamento.
Pré-operatório (2 a 7 anos) - Também chamado de estágio da Inteligência Simbólica. Caracteriza-se, principalmente, pela interiorização de esquemas de ação construídos no estágio anterior (sensório-motor). O egocentrismo é característico dessa fase e por causa dele a criança se torna incapaz de se colocar no lugar do outro. A criança não aceita casualidades e tudo deve ter uma explicação. Possui percepção global sem discriminar detalhes, podendo agir por simulação.
Operatório-Concreto (7-11 anos) - Neste estágio a criança é capaz de realizar operações concretas, ou seja, é capaz de realizar uma ação interiorizada, executada em pensamento e desenvolve as noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, e casualidade, sendo capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. Não se limita a uma representação imediata, mas ainda depende do mundo concreto para chegar à abstração, dependendo de materiais concretos para realizar essas operações.
Operatório-Formal (12 a diante) - A representação agora permite a abstração total. A criança não se limita mais à representação imediata nem somente às relações previamente existentes, mas é capaz de pensar em todas as relações possíveis logicamente buscando soluções a partir de hipóteses e não apenas pela observação da realidade. Desta forma Piaget diz que a criança constrói suas crenças em virtude do inconsciente, devido ao seu passado e à sua vivencia num estilo individual, pessoal e único. "Assim, a "vivência" de cada criança é singular e diferente da vivência de outra, mas a gênese e evolução dessas crenças são comuns a todas as crianças por dependerem do desenvolvimento da inteligência como um todo." (RIBEIRO, 1996, p. 30).
O embasamento de sua teoria esta na idéia de que existe uma diferenciação do eu e o grupo onde há uma "reciprocidade e respeito mútuo e a aleatoriedade da regra, pois seu valor resulta do grau do grau de aquiescência dos membros do grupo, que poderão também elaborar uma regra ideal, que independa da experiência concreta e das praticas e regras do grupo." (RIBEIRO, 1996. p.33).
Assim, para Piaget, o desenvolvimento mental humano está influenciado por quatro fatores inter-relacionados, e enumerados abaixo:
Maturação: amadurecimento físico especialmente do sistema nervoso central.

Experiência: manipulação de objetos, movimentos corporais e pensamentos sobre os objetos concretos e processos de pensamentos que os envolvem. Interação social-jogo, conversas e trabalho com outros indivíduos especialmente outras crianças.
Equilibração: processo de reunir maturação, experiências e socialização de modo a construir e reconstruir estruturas mentais.
Vemos claramente que sua teoria parte de um desenvolvimento interno para uma interação com o mundo, onde o individuo irá ter idéias próprias a respeito da realidade em que vive construindo seus modelos representacionais do mundo natural, psicológico e social, a partir do grupo cultural em que está inserido.
A sexualidade na teoria de Piaget segue o mesmo modelo de sua teoria. A criança passaria primeiro, por uma fase de maturação seguida de uma interação com o ambiente em que vive. Deste modo, a criança construiria os seus conceitos e a sua moral quanto à sexualidade e adotaria padrões de comportamento. Mediante uma aprovação dos adultos as crianças saberiam se esse padrão é apropriado ou não, estando assim construindo e reconstruindo ativa e progressivamente regras e conceitos, neste caso sobre a sexualidade humana.
É nesse "equilíbrio" e "desequilíbrio" que está centrada toda a teoria de Piaget. Ele sustenta que a criança constrói tanto as suas representações da realidade como as suas estruturas de conhecimento, ou seja, sua própria inteligência nessa desorganização e organização de conceitos. A criança perceberia uma contradição, desequilibrando-se e só a partir de uma superação é que se equilibraria novamente. É dessa forma que as novas gerações seriam capazes de demolir padrões sedimentados e construir novos, inclusive quanto à sexualidade humana e tudo que nela está envolvida.
Segundo Piaget, a construção do conhecimento ocorre quando o indivíduo age, física ou mentalmente, sobre os objetos, provocando o desequilíbrio do conhecimento adquirido anteriormente. Esse desequilíbrio deve ser resolvido por meio de um processo de assimilação e acomodação do novo conhecimento. Assim, o equilíbrio será restabelecido para, em seguida, sofrer outro desequilíbrio.
Assimilação - É o processo cognitivo de colocar novos conhecimentos em esquemas já existentes. É a incorporação de elementos do meio externo (conhecimentos, objetos) a um esquema ou estrutura do sujeito. Esse processo de captar o ambiente e de organizá-lo possibilita a ampliação dos esquemas já existentes.
Acomodação - É a modificação de um esquema ou de uma estrutura, em função das particularidades do conhecimento ou do objeto novo que será assimilado. O indivíduo poderá criar um novo esquema que absorva o novo conhecimento ou objeto, ou poderá adaptar um esquema existente para que o novo conhecimento possa ser incluído nele.
Equilibração - É o processo que se dá quando se passa de uma situação de menor equilíbrio (durante a assimilação) para uma situação de maior equilíbrio (durante a acomodação).

A sexualidade dentro da visão proposta por Vygotsky sobre o desenvolvimento humano

Lev SemyonovitchVygotsky nasceu em 05 de novembro de 1896, na cidade de Orsha, no nordeste de Minsk, na Bielo-Rússia e em 1917 graduou-se na Universidade de Moscou, especializando-se em literatura. Até o ano de 1923, lecionou literatura e psicologia na cidade de Gomel. Em 1924, transfere sua residência para Moscou, iniciando seus estudos no Instituto de Psicologia e por causa destas pesquisas, ingressou no curso de medicina. Morreu precocemente vítima de tuberculose, em 1934, deixando inúmeras notas de seus trabalhos, não deixando um trabalho sistematizado, mas deixando aos seus colaboradores oportunidades.
Tinha como ambição estruturar uma teoria psicológica que abarcasse todos os aspectos psicológicos humanos que permitissem estudar e compreender como surgiam e processavam as funções psicológicas superiores. Infelizmente, morreu antes de conseguir alcançar este intuito, mas deixou um legado teórico que ainda suscita em seus discípulos, muitas provocações.
Por causa disto, não deixou escrito nenhum texto específico a respeito da questão da sexualidade humana, até mesmo porque o foco central de sua pesquisa contemplava a questão do pensamento, suas relações com a linguagem e com o desenvolvimento humano como um todo e não apenas de um aspecto específico como este.
Entretanto, com sua proposta sobre como se dá no homem o desenvolvimento, nos permite ampliar as discussões sobre a gênese da identidade sexual e a constituição dos gêneros humanos.
Partindo dos quatro níveis de desenvolvimento por ele proposto, podemos traçar o relacionamento entre estes níveis e a constituição da identidade sexual do indivíduo. Tal como se deu, com outros aspectos humanos como a linguagem, por exemplo, na qual a importância da atuação do grupo social sobre o indivíduo, através da perspectiva vygotskyana é tida como fundamental para um desenvolvimento amplo, fornecendo mais evidências sobre a importância da continuação de estudos dentro desta perspectiva.

Uma possibilidade que nos é dada por esta teoria, está em analisarmos a sexualidade humana e sua formação, numa abordagem que vai além das características biológicas. O que se torna importante não é o físico, mas a representação simbólica que este físico representa para um dado grupo social e como este grupo social interpreta e relaciona estes significados com os mais variados comportamentos expressos pelo homem nesta dimensão.
A maneira como estes significados vão sendo transformados através da mediação do fator social, influi na construção dos gêneros humanos, homem e mulher, como brevemente foi apresentado no começo deste texto.
Assim, ser "homem", ou do gênero masculino, constitui uma idealização impregnada por diversas características e expressões como: ter força muscular, não sentir dor, não sentir medo, não ter vontade de chorar, entre outras. Estes significados são referentes a diversas características que contemplam do físico ao emocional, sendo o comportamento sexual uma das marcas mais marcantes do gênero humano.
Desta forma, o primeiro nível ou plano de desenvolvimento sugerido por Vygotsky - a filogêneseque contempla a história da espécie humana e suas características físicas e biológicas, determinadas pela própria espécie no decorrer da evolução da mesma, limita o ser humano em dois gêneros caracterizados basicamente pela morfologia dos seus órgãos reprodutores – o sexo feminino e o sexo masculino.
As diferenças mais evidentes dos gêneros humanos estão na localização do aparelho reprodutor no corpo humano e a sua morfologia. O da mulher (feminino) é interno, constituído de um canal que liga a parte externa entre as pernas – vagina – até a cavidade uterina, local de abrigo para o feto durante seu desenvolvimento. Este está interligado aos ovários, onde são produzidas e armazenadas as células reprodutoras – os óvulos – que a partir da adolescência, são liberados a cada ciclo de mais ou menos 28 dias.
O do homem é externo, constituído pela bolsa escrotal, na qual são produzidas e armazenadas as células reprodutoras – os espermatozóides – e que fica localizado entre as pernas. Está interligado por um duto condutor (a uretra) até a extremidade do pênis, órgão alongado que quando excitado sexualmente fica rijo e ereto, o que facilita no coito, a expulsão e implantação dos espermatozóides no corpo feminino. No encontro destes com o óvulo, ocorre a fecundação que é a origem de uma nova vida humana.
Mas, é no próximo plano de desenvolvimento vygotskyano - a sociogênese - que a sexualidade humana encontra as respostas para sua constituição ou definição. Isto porque é neste nível que a história cultural de um grupo determina os significados do que é fazer parte de um gênero ou de outro. E é nesta fase que o estudioso da sexualidade humana, deve buscar as respostas para compreender como a imersão do indivíduo na cultura do grupo social no qual ele nasce influencia na sua constituição como sujeito sexual e, portanto, como esta intervenção cultural forma os processos mentais superiores acerca do sexo e da sexualidade.
Esta questão foi abordada neste texto quando, na primeira parte, tratamos da questão da cultura. Entretanto, é pertinente dizer que aqui não estamos falando de cultura só no sentido macro-social, como a nação ou a língua ou o grupo étnico, mas também no sentido micro, restrito, particular de cada indivíduo em contato como os valores e as crenças familiares, por exemplo.
Apesar da força do nível da sociogênese, o segundo nível ou plano genético - a ontogênese - também é importante porque associado com o primeiro, irá determinar quais as mudanças que o ser humano irá passar no decorrer de seu desenvolvimento, até formar por completo sua identidade sexual. Ou seja, este nível determina quais os eventos físicos e biológicos deverão ocorrer para a maturação sexual do indivíduo. Quer dizer, trata do próprio ciclo de vida que a espécie humana determina para quem tem o gênero feminino ou o gênero masculino.
Assim, é nele que devem ser estudadas as transformações ocorridas durante a adolescência e é o que determina se o menino vai ou não desenvolver muitos pêlos pelo corpo, ou quando a menina viverá seu primeiro ciclo menstrual e assim por diante.
Mas, também está relacionado com o terceiro, a sociogênese, porque seu desenvolvimento não é somente uma maturação biológica, é um processo que esta sendo constantemente influenciado e interpretado pelo grupo social, no qual o indivíduo está inserido. Um exemplo claro desta influência cultural, exercida pelo grupo sob o indivíduo, são os ritos de passagem que alguns grupos praticam durante a fase do desenvolvimento identificado por nossa cultura ocidental como a adolescência.
Podemos identificar na relação destes três níveis do desenvolvimento que a filogênese limita as possibilidades da influência cultural porque há no ser humano condições físicas que determinam o que ele pode ou não fazer, quanto à questão sexual.
Entretanto, esta relação vista na ordem inversa, da sociogênese para a filogênese, nos permite perceber que há uma ampliação de possibilidades geradas pela cultura que permite ao indivíduo realizar muito mais do que sua condição física permite.
E uma destas possibilidades dentro da sexualidade, é a relação sexual entre duas pessoas do mesmo sexo, na qual a morfologia dos órgãos sexuais não restringe a possibilidade dos indivíduos realizarem esta prática sexual, como pudemos estudar através do histórico apresentado anteriormente.
O quarto e último plano genético proposto é o microgênese. Este termo não foi sugerido para Vygotsky, mas por um estudioso contemporâneo chamado Wertsch. Refere-se à história individual de cada indivíduo como única e exclusiva. Este é o nível onde a sexualidade humana deve ser compreendida porque esta será desenvolvida pelo indivíduo como uma síntese realizada entre o que o social identifica como ideal para o seu gênero e como ele o assim entende. Diz respeito, de como um indivíduo específico, trilhou a trajetória do desenvolvimento determinado para a espécie humana.
Desta forma, Vygotsky entendia que tudo na constituição do ser humano, e em especial a sua sexualidade, não é algo inato, que está pronto no momento do nascimento, mas são todas oriundas de um processo que nem sempre é perceptível.
Então, o papel do pesquisador em psicologia é tornar estes processos perceptíveis, função esta que deve ser encarnada principalmente pelos educadores, quando o assunto em questão é a formação da sexualidade humana.
Outra implicação deste quarto nível do desenvolvimento humano proposto é o de derrubar o mito do determinismo biológico dentro do conhecimento psicológico e também nos alerta para não termos a influência cultural (determinismo cultural) como uma força soberana na constituição do indivíduo, eliminando sua subjetividade.
E isto é mais incisivo no desenvolvimento da sexualidade ou da percepção sexual que cada indivíduo tem de si mesmo.
É o processo de integração destes quatro níveis, que ocorrem através de processos muito complexos que dá ao ser humano aquilo que é típico de cada um dos membros de nossa espécie a singularidade. E na área sexual esta singularidade também existe!

Foucault: ponto de partida para a compreensão da sexualidade contemporânea
Foucault é hoje o nome mais emblemático no campo de estudo da sexualidade humana. Segundo o conteúdo biográfico do site Espaço Michel Foucault, Paul-Michel Foucault nasceu em Poitiers, uma cidade francesa, em 15 de outubro de 1926.
Fez parte de uma família de longa tradição médica na França, e por este motivo foi estimulado por ela a prestar concurso para estudar na Escola Normal Superior (em 1945). Como reprovou na primeira tentativa, ele foi estudar no Liceu tendo a oportunidade de ser aluno de Jean Hyppolite, importante filósofo que trabalhava o hegelianismo na França.
Em 1946, passa nos exames da Escola Normal Superior da França e aí conhece e mantém contatos com Pierre Bourdieu, Jean-Paul Sarte, Paul Veyne, entre outros. Além de ser aluno de Maurice Merleau-Ponty. Dois anos depois, Foucault recebeu sua licenciatura em Filosofia, na Universidade de Sorbonne e em 1949, a sua Licenciatura em Psicologia e seu Diploma em Estudos Superiores de Filosofia, defendendo uma tese sobre Hegel, sob a orientação de Jean Hyppolite.
Em meio a angústias e descaminhos que levaram Foucault a algumas tentativas de suicídio, o pensador adere ao Partido Comunista Francês, em 1950, ao qual ficou ligado pouco tempo em função de desavenças políticas e de "intromissões" pessoais que o partido fazia na vida de seus participantes.
Em 1951, Foucault tornou-se professor de psicologia na Escola Normal Superior, onde teve como alunos Derrida e Paul Veyne, os ideólogos do pós-modernismo. É neste período que sua afinidade pelas artes torna-se mais evidente e também, é o período que ele vai freqüentar o famoso Seminário de Jacques Lacan, onde Maurice Blanchot e Georges Bataille o aproximam de Nietzsche, ao mesmo tempo em que recebe seu diploma em Psicologia Experimental (fase em que estudou as obras de Janet, Piaget, Lacan e Freud).
Para seus biógrafos, foi os anos entre 1960 a 1970, a fase mais produtiva academicamente deste pensador, porque ele assumiu a cadeira de Jean Hyppolite na disciplina História dos Sistemas de Pensamento e publicou a maioria de suas obras como: Histoire de la Folie à l’âge Classique (1961; História da Loucura na Idade Clássica), (Naissance de la clinique, 1963; Nascimento da Clínica), (Les Mots et les choses, 1966; As Palavras e as Coisas), (L’Archeologie du Savoir, 1969; A Arqueologia do Saber); Surveiller et punir (1975; Vigiar e Punir).
Entretanto, deixou inacabado seu mais ambicioso projeto e o que o fez ser uma referência no estudo da sexualidade humana, Historie de la Sexualité (História da Sexualidade), Nesta obra, pretendia mostrar como a sociedade ocidental fez do sexo um instrumento de poder, não por meio da repressão, mas da expressão. O primeiro dos seis volumes anunciados foi publicado em 1976 sob o título La Volonté de Savoir (1976; A Vontade de Saber) e despertou duras críticas, que o levaram a se retirar do cenário público.
Somente em 1984, pouco antes de morrer, publicou outros dois volumes, rompendo um silêncio de oito anos: L’Usage des plaisirs (O uso dos prazeres), que analisa a sexualidade ma Grécia e Le souci de soi (O cuidado de Si), que trata da Roma nos dois primeiros séculos do Cristianismo.
Foucault teve vários contatos com o exterior e, várias vezes, esteve no Brasil onde realizou conferências e firmou amizades. Foi aqui que pronunciou as importantes conferências sobre A verdade e as formas jurídicas, na PUC do Rio de Janeiro.
Mas, foi nos Estados Unidos que realmente sentiu-se em casa por causa do apoio deste governo à liberdade intelectual e por ter sido, em São Francisco, Califórnia, a cidade onde Foucault pode vivenciar algumas experiências mais marcantes em sua vida pessoal no que diz respeito à sua sexualidade, já que ele era homossexual assumido.
Em junho de 1984, em função de complicadores provocados pela AIDS, Foucault foi vítima de uma septicemia que causou a sua morte por supuração cerebral, no dia 25.
Discutido e estudado por várias áreas do saber, inclusive na área educacional, Foucault foi um pensador arrojado, um intelectual preocupado com o presente em que se encontrava inserido, percorrendo os saberes em busca de uma crítica que subvertesse os esquemas dos saberes e das práticas que ainda hoje nos subjugam.
Por estas razões, seus estudos de sexualidade não devem ser preteridos, principalmente pelos educadores comprometidos com uma educação sexual consistente e libertadora. Mas, por que será que a sexualidade humana passou nos anos 80 e 90 um tema a integrar os currículos escolares do mundo todo e do nosso país?
Esta questão é fundamental para compreendermos a complexidade da proposta formulada por este trabalho que será agora, abordada mais de perto, já que até aqui, colocamos os pressupostos históricos de como a sexualidade foi tratada pela sociedade humana e como a psicologia buscou trazer, de várias perspectivas, uma contribuição para esta discussão.
         
Do mundo pós-guerra até os PCN´s brasileiros

Por que falar de sexualidade na escola?
Com o advento da psicanálise e seu desenvolvimento no período entre guerras e todas as mudanças tecnológicas e científicas do pós-guerra que permitiram a ciência dar à mulher o controle e o domínio sobre seu corpo, através da criação da pílula anticoncepcional, fez com que o mundo passasse por profundas mudanças sociais.
Catonné diz que já é possível sentir uma profunda diferença no comportamento sexual da humanidade ainda nos anos de 1948-1953, quando são divulgados os resultados do relatório Kinsey. Estes tiveram o orgasmo como tema central e buscava compor um quadro de como a idéia de igualdade sexual era postulada pela sociedade de então. Seguiram muitos outros estudos que foram aos poucos modificando o comportamento sexual através principalmente, pela campanha, da mídia em favor do aborto e da igualdade feminina, não apenas sexual, mas também econômica. Sendo assim, os anos de 1970 podem ser tratados como o marco da nossa nova etapa histórica sexual, onde novas questões são postas como a questão da procriação sem união sexual oriunda da biotecnologia reprodutiva da reprodução in vitro e da inseminação com doador, a busca pelo prazer perfeito e o medo da contaminação pela AIDS.
Atualmente, o sexo é algo presente em cem por cento do tempo e nossas crianças e jovens, recebem as mais diversas informações, dos mais variados campos do conhecimento e das mais variadas perspectivas morais e éticas.
Entretanto, o que mais está preocupando, pais e educadores, seja a extrema exaltação do valor do gozo que transformou o direito a uma liberdade de expressão sexual, uma dependência, numa obrigação. Nas palavras de Catonné, "teríamos transformado a liberdade sexual numa penosa coação" (2001.p. 91). E que pode estar associado às altas taxas de gravidez na adolescência e de abortos.
Diante de tudo isto, os países do mundo todo, seguindo uma orientação da Organização Mundial de Saúde, estão buscando introduzir desde os meados dos anos 90, nos sistemas educacionais, um espaço onde os jovens e adolescentes possam discutir a sexualidade humana de maneira crítica com o propósito de auxiliá-los nas suas próprias atitudes sexuais, porque o uso desta liberdade conquistada a duras penas pela humanidade, pelo menos no mundo ocidental, exige uma atitude responsável de todos.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais e a sexualidade: entre o discurso e a prática
A proposta da inclusão deste tema na escola, como vimos, veio junto com os movimentos sociais e com a abertura política, que entre outros avanços, propunham repensar o papel da escola e os conteúdos abordados por ela. Entretanto, ainda que fossem essas as intenções, pouca coisa mudou na prática, como veremos no decorrer deste estudo.
Na década de 80, os trabalhos na área de sexualidade nas escolas aumentaram devido ao grande número de ocorrências de gravidez precoce e/ou indesejada e o risco da contaminação de DST's – Doenças Sexualmente Transmissíveis - entre os jovens. E diante a dificuldade que as famílias apresentavam em abordar estas questões, os próprios pais requereram a educação sexual nas escolas de nosso país. Apesar da discussão em torno desta questão ser considerada por muitos, pouco abrangente e até mesmo imposta por determinados grupos minoritários, como os movimentos homossexuais, resultando numa franca resistência ao tema, por parte de pais e de instituições de ensino.
Entretanto, como educadores, devemos considerar que a educação sexual da criança não ocorre apenas em um período letivo, mas sim no decorrer de todo o seu desenvolvimento, por meio da observação das pessoas de seu convívio social (família, amigos, professores, etc.).
Além disso, a mídia também exerce grande influência sobre os jovens e adolescentes, já que ajuda a moldar visões e comportamentos, por meio de propagandas que não são em sua maioria, nem educativas, nem sempre dirigidas e adequadas a esse público, moralizando ou reforçando preconceitos e sempre tendo um apelo consumista da própria sexualidade.
Devemos ter em mente que a sexualidade se manifesta em todos os meios de convívio do jovem e do adolescente e desta forma a escola também interfere nessa sexualidade em formação, mesmo que assuma ou não o papel de responsável pela educação sexual do aluno. Tanto ao oferecer esta educação, como ao ignorá-la e reprimir as dúvidas e manifestações sexuais de seus alunos, a ação social deste ambiente institucional não tem como ser negado.
Desta forma, os PCN’s – Parâmetros Curriculares Nacionais, elaborados em 1996 pelo Ministério da Educação, com apoio de diversos especialistas, propõem que a orientação sexual seja trabalhada como um tema transversal. Isto exigiria um trabalho integrado de diversos professores, em que questões ligadas à sexualidade fossem abordadas transversalmente em todos os ciclos de escolarização, e não como conteúdo específico de uma única disciplina em um único ano escolar.
Isto implica que o conteúdo de Orientação Sexual, como é definido nos PCN’s ( denominação renegada por diversos autores sérios deste tema e opinião compartilhada por este grupo) deverá ser trabalhado por todas as demais disciplinas ditas fixas, como matemática, português, história, etc. tenham que contê-la, de alguma forma.
Para isto, eles trazem exemplos de como trabalhar esta questão nas escolas dando exemplos de atividades pedagógicas em que as questões como os princípios democráticos como dignidade, igualdade de direitos, participação e co-responsabilidade sejam também trabalhadas conjuntamente com este tema.
Como exemplo de sugestões destas atividades extraídas dos PCN’s, temos:
Matemática – Pesquisar com os alunos dados estatísticos sobre a Aids em diferentes populações e locais.
História – Incluir conteúdos sobre sexualidade em diferentes culturas, tempos, lugares e a história das mulheres, suas lutas pela conquista de direitos nas diversas partes do mundo.
Ocorre, no entanto, que esta proposta, na prática, tem se demonstrado ser uma implementação difícil de ser realizada, nas escolas, para não dizermos, quase impossível. Em parte, como uma forma de resistência dos educadores de outras áreas em trabalhar esta questão, devido à dificuldade pessoal de lidar com a ela, quanto a questões ligadas a crenças e valores pessoais dos professores que interferem diretamente na maneira como percebem a necessidade deste tipo de educação entre as crianças e jovens.

Um exemplo esta resistência retiramos do trabalho das professoras Camargo e Ribeiro, onde uma professora de Educação Infantil afirma: "Eu não tenho coragem de falar os nomes das partes íntimas pra ninguém, muito menos para meus filhos" (CAMARGO e RIBEIRO, 1999, p. 56). Segundo as mesmas autoras, este episódio entre outros são "muito freqüentes na prática educativa e refletem a ansiedade, o desconforto e as atitudes inadequadas em relação às curiosidades e às manifestações sexuais das crianças" (CAMARGO e RIBEIRO, 1999, p. 56). E o mesmo ocorrer com relação aos adolescentes e aos jovens.
Entretanto, devemos tomar consciência como educadores que somos que a proposta de trabalharmos em sala de aula, os conteúdos da Educação Sexual, independente de nossa especialidade e visa atender e contribuir para a prevenção de problemas graves como o abuso sexual, gravidez indesejada, contaminação por doenças venéreas, entre nossos alunos.
As informações corretas sobre a sexualidade humana e suas implicações aliadas ao trabalho de auto-conhecimento e reflexão sobre a própria sexualidade ampliam a consciência sobre os cuidados necessários para a prevenção desses problemas.
A seguir traremos resumidamente o que os PCN’s falam a respeito da sexualidade humana.
Sexualidade na infância e na adolescência para os PCN´s
Segundo os estudos sobre a sexualidade, os contatos de uma mãe com seu filho despertam nele as primeiras vivências de prazer. Essas primeiras experiências sensuais de vida e de prazer não são essencialmente biológicas, mas se constituirão no acervo psíquico do indivíduo. Essas experiências serão como o embrião da vida mental no bebê.
A sexualidade infantil se desenvolve desde os primeiros dias de vida e segue se manifestando de forma diferente em cada momento da infância. A sua vivência saudável é fundamental na medida em que é um dos aspectos essenciais de desenvolvimento global dos seres humanos.
A sexualidade, assim como a inteligência, será construída a partir das possibilidades individuais e de sua interação com o meio e a cultura, como vimos na exposição da teoria vygotskyana. Os adultos reagem de uma forma ou de outra, aos primeiros movimentos exploratórios que a criança faz em seu corpo e aos jogos sexuais com outras crianças.
As crianças recebem então, desde muito cedo, uma qualificação ou "julgamento" do mundo adulto em que está imersa; permeado de valores e crenças que são atribuídos à sua busca de prazer, o que comporá a sua vida psíquica.

Nessa exploração do próprio corpo, na observação do corpo de outros, e a partir das relações familiares é que a criança se descobre num corpo sexuado de menino ou menina. Preocupa-se então mais intensamente com as diferenças entre os sexos, não só as anatômicas, mas também com todas as expressões que caracterizam o homem e a mulher.
A construção do que é pertencer a um ou outro sexo se dá pelo tratamento diferenciado para meninos e meninas, inclusive nas expressões diretamente ligadas à sexualidade e pelos padrões estabelecidos do que é ser feminino ou masculino, socialmente.
Esses padrões são oriundos das representações sociais e culturais construídas a partir das diferenças biológicas dos sexos e transmitidas através da educação, o que atualmente recebe a denominação de relações de gênero. Essas representações absorvidas são referências fundamentais para a constituição da identidade da criança.
Em relação à puberdade, as mudanças físicas incluem alterações hormonais que, muitas vezes, provocam estados de excitação incontroláveis, ocorre intensificação da atividade masturbatória e instala-se a função genital. É a fase das descobertas e experimentações, são pertinentes as explorações da atração e das fantasias sexuais com pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto. A experimentação dos vínculos tem relação com a rapidez e a intensidade da formação e da separação de pares amorosos entre os adolescentes.
É uma questão bastante atual e presente no cotidiano de todos os profissionais da educação a postura a ser adotada, dentro das escolas, frente às manifestações da sexualidade dos alunos. Daí, a presente proposta de trabalho dos PCN’s que legitima o papel e delimita a atuação do educador neste campo.

Objetivos gerais da Orientação Sexual segundo os PCN’s
O objetivo do trabalho de Orientação Sexual é contribuir para que os alunos possam desenvolver e exercer sua sexualidade com prazer e responsabilidade. Esse tema vincula-se ao exercício da cidadania na medida em que, de um lado, se propõe a trabalhar o respeito por si e pelo outro, e, por outro lado, busca garantir direitos básicos a todos, como a saúde, a informação e o conhecimento, elementos fundamentais para a formação de cidadãos responsáveis e conscientes de suas capacidades.
Assim, o tema Orientação Sexual deve se organizar para que os alunos, ao fim do ensino fundamental, sejam capazes de:

respeitar a diversidade de valores, crenças e comportamentos existentes e relativos à sexualidade, desde que seja garantida a dignidade do ser humano;
compreender a busca de prazer como uma dimensão saudável da sexualidade humana;
conhecer seu corpo, valorizar e cuidar de sua saúde como condição necessária para usufruir de prazer sexual;
reconhecer como determinações culturais as características socialmente atribuídas ao masculino e ao feminino, posicionando-se contra discriminações a eles associadas;
identificar e expressar seus sentimentos e desejos, respeitando os sentimentos e desejos do outro;
proteger-se de relacionamentos sexuais coercitivos ou exploradores;
reconhecer o consentimento mútuo como necessário para usufruir de prazer numa relação a dois;
agir de modo solidário em relação aos portadores do HIV e de modo propositivo na implementação de políticas públicas voltadas para prevenção e tratamento das doenças sexualmente transmissíveis/AIDS;
conhecer e adotar práticas de sexo protegido, ao iniciar relacionamento sexual.
evitar contrair ou transmitir doenças sexualmente transmissíveis, inclusive o vírus da AIDS;
desenvolver consciência crítica e tomar decisões responsáveis a respeito de sua sexualidade;
Decorrente de tudo que já foi exposto até aqui, entendemos que o tema sexualidade está cada vez mais fazendo parte do ambiente escolar e que é um tema difícil de ser tratado, se comparado com os demais temas transversais propostos pelos PCN’s como a violência, as drogas e as bebidas.
E como é explicitado pelos PCN’s, numa clara situação de Freud sobre a sexualidade em uma de suas conferências aos americanos sobre "A vida sexual dos seres humanos" entre os anos de 1916-1917, sabemos hoje, que a sexualidade não surge somente na adolescência como se pensava até o início do século XX, mas está presente desde o nascimento das crianças quando estas apresentam atividades auto-eróticas, como já mencionamos ao resumir a teoria e a contribuição freudiana para o nosso tema.

A questão que queremos retomar neste momento de nosso trabalho, pode ser resumida pelo pronunciamento realizado por Freud numa destas conferências:
"Se, de fato, vocês não acreditassem na sexualidade desde a infância, por que haveriam de estar constantemente reprimindo as crianças nas escolas, no lar e nas prescrições de condutas saudáveis? E, além disso, se não nos lembramos de nós, na mesma idade, é porque fomos também reprimidos!" (apud GUIRADO, 1997, p.?).
Esta questão retórica de Freud se faz pertinente neste ponto de nossa exposição, para dirigirmos nossas reflexões sobre as atuais dificuldades dos educadores em abordarem os conteúdos da educação sexual apesar de toda a argumentação colocada através dos objetivos dos PCN’s quanto à importância e urgência do trabalho pedagógico sobre esta temática.
Uma hipótese apontada para elucidar esta resistência do professorado, é sugerida nos estudos feitos por Foucault, no início dos anos 80 e que também já foram mencionados.
Retornando a proposta foucaultiana sobre a sexualidade, esta não é nada mais do que o sexo no discurso. Assim, o que é reprimido passa a ser objeto de retórica, e assim torna-se permitido, não a sua prática, mas o seu discurso.
Desta forma, os professores, tanto os que trabalham a questão somente como forma de discurso ou os que não trabalham, na realidade só estariam contribuindo para a repressão da sexualidade de seus alunos. Em nada estão contribuindo para uma educação sadia sobre a temática. Diante desta contestação, o que fazer? Como agir? Qual a postura deveria ter o professor diante desta temática?
Uma proposta sobre a prática da educação sexual em nossas escolas
No estudo realizado por Guirado, ela cita um exemplo nem um pouco ortodoxo, mas que revolucionou segundo a sua opinião, o modo como a questão da sexualidade foi discutida, não somente nas escolas, mas nas famílias.
A autora trata do fenômeno musical "Mamonas Assassinas", grupo de rock-pop nacional dos meados dos anos 90 que com muita irreverência cantavam a subjetividade nacional sobre diversos temas, e entre eles, o mais tratado, a sexualidade.
Ela ressalta em seu estudo a forma com os integrantes deste grupo, falaram de questões ligadas à sexualidade, utilizando palavras como: suruba, cabelos do saco, bunda, putaria, pinto, tesão, teta, cu, etc.

Na visão da autora, a questão de gênero era tratada com naturalidade, nas letras das músicas, de tal modo que para um menino era possível dançar rebolando ao som da música "Robocop Gay" sem que este ato o identifica-se como homossexual ou propenso a este comportamento. Da mesma forma, as músicas do grupo permitiram as meninas de séries primárias a cantar com trejeitos românticos letras como: "minha brasília amarela/ tá de portas abertas/ pra mode a gente se amar/ peladios em Santios". Numa clara conotação sexual, onde a "brasília" é uma metáfora do corpo feminino preparado para o coito. Com eles, diz a autora, na boca e no corpo tudo pode.
Segundo a autora, era uma descompressão geral. Nas escolas, nas ruas, em casa, na frente de pai e mãe, nas boates. Nada era vergonhoso. Um pouco atônitos, em principio, os mestres tentaram frear este movimento com uma cara de zanga, mas logo aderiram ou pelo menos, fingiram não ouvir seus filhos em tão barulhenta autoconfissão, deixando cair as máscaras.
Guirado comenta que, nesta época, foi interessante observar nas escolas os professores procurarem com seus alunos os significados de palavras como: porreta, porra, veado, suruba. Porém, o mais impressionante foi ouvir das crianças, questionadas sobre o que mais gostavam neles, por ocasião do trágico fim do grupo, apontarem o mesmo motivo: a oportunidade de dizer nas palavras e nas melodias dos Mamonas aquilo que, por elas e por seus adultos, jamais se autorizariam dizer.
Esse exemplo nos faz pensar que, o que daria em parte razão a Freud é que aquilo que se reprime, quando devidamente agenciado, como diria Foucault, alastra-se no discurso e, por ele, tem um lugar a céu aberto.
O que a escola pode fazer diante disso? De acordo com a autora nada, ou, quase nada diretamente. A autora comenta que a sexualidade e o desejo, por definição não se deixam capturar absolutamente pelas malhas da disciplinarização generalizada. Não se deixam ensinar como matéria de currículo, ainda que isto seja tentado, e ainda questiona: "Que distância existe entre os desenhos assépticos dos ciclos reprodutivos dos animais, por sua vez, e os trejeitos e rabiscos reais ou imaginários que os versos dos Mamonas permitem?" (Guirado, 1997, p.44).
Não há como fechar os olhos para a sexualidade, na escola ela aparece nos banheiros, nos corredores, na saída da aula. Por isso, na opinião da autora, fazem entrar em cena as aulas de orientação sexual: ora com a formalidade do ensino, ora com os grupos de discussão sobre sexualidade.
Enfim, definir uma especificidade seria equivalente a impedir que a escola abrisse suas asas sobre as conquistas sociais ou se deixasse ser atravessada por elas. Assim, questiona a autora, por que não tratar também da sexualidade, aproveitando dos recursos melhorados da psicologia dos grupos e até da computação gráfica?
Será que sexo se aprende na escola? Como?

A questão proposta como sub-título desta parte do texto é pertinente se nos lembrarmos que no final do século XX, as informações sobre a sexualidade correm à solta entre os jovens por meio de vários veículos, entre eles a escola.
Há muito tempo, a escola veicula as informações biológicas sobre a sexualidade: na disciplina ciências ou biologia, um dos objetivos é o de o aluno conhecer a anatomia e a fisiologia do corpo humano. O aparelho reprodutor é apresentado nos mínimos detalhes. Mas o que acontece com as informações, preciosas para a vida prática dos jovens, sobre o corpo, no que diz respeito à sexualidade?
A pesquisadora Sayão comenta em seu estudo "Saber o sexo? Os problemas da informação sexual e o papel da escola", da dificuldade que muitos professores têm em transmitir tal conteúdo para seus alunos. E questiona: por que tal dificuldade?
Ela diz que isso começa pelas reações dos alunos: sorrisinhos maliciosos, piadinhas e perguntas indiscretas, que intimidam o pobre do professor que nunca pensou ser este aspecto humano, propósito de uma aula. Outro fator é a linguagem que, sempre, além de expressar um pensamento, veicula também um estilo: o de quem fala. Raramente o estilo muito particular de quem ouve é considerado. Outra é que cada um interpreta a informação de um jeito. Bem, além disso, temos a escola com suas regras e normas sobre as condutas sexuais, que se constituem em uma proposta nem sempre clara (ao contrário, muitas vezes contraditória) de educação sexual.
Às vezes pode ocorrer um grande engano, diz Rosely: o de que quaisquer informações sobre a sexualidade, que são veiculadas na escola, assumirem valor educativo sem necessariamente o sê-lo.
Isto porque em tempo de AIDS e de crescimento da gravidez precoce, os pais e educadores preocupam-se em transmitir todas as informações que julgam necessárias aos adolescentes, muitas vezes forçando as escolas assumirem conscientemente as suas responsabilidades sociais através da prática da "orientação sexual", porém todos estes esforços não conseguem atender as expectativas esperadas.
A questão colocada pela autora é exatamente esta contradição, como pode esta geração ser a que mais informação tem sobre o corpo, o aparelho genital e seu funcionamento, ser a que mais apresenta índices de gravidez precoce, infecção por DST’s e outros problemas contemporâneos relacionados com a sexualidade? Por que se abriu um espaço enorme entre o saber e o agir? Só a título de exemplo, o número de natalidade entre os jovens de 14 a 19 anos cresceu nos últimos vinte anos, o que a faz questionar o que diferencia uma informação de uma informação educativa?
Para a pesquisadora, a chave para estas questões passa pelo reconhecimento do interlocutor a quem se dirige a informação. Quem é esse adolescente afinal? Como dar a qualidade educativa às informações sobre a sexualidade dirigida a essas pessoas considerando as características da sua idade e outras ainda, como a classe social e econômica, o meio cultural, familiar e regional?
Após a realização de sua pesquisa, a autora defende que as informações sobre sexualidade só serão educativas quando tiverem o endereço postado corretamente. E com o remetente identificado e devidamente qualificado.
Entretanto, o que hoje ocorre na maioria das escolas se dá mais ou menos assim: os alunos levam o assunto para sala de aula e cada professor se vira de acordo com sua experiência pessoal, norteado, geralmente por informações colhidas em breves cursos ou palestras. Mas isso não é o ideal, muitas vezes essas informações até atrapalham.
Um exemplo real para ilustrar esta questão foi recolhido por Sayão no decorrer da pesquisa. Uma menina de 14 anos pergunta para sua professora em sala de aula o que é um aborto, e logo a professora responde: "É o assassinato de um filho". Será esta a melhor maneira para o(a) professor(a) trabalhar esta questão? Com certeza ela não fez este comentário por mal, mas então qual seria a resposta certa? Bastava ter dito que aborto é a interrupção de uma gravidez.
Para Rosely são os professores que poderão contribuir para que seus alunos tenham uma visão positiva e responsável da sexualidade já que são eles que mantém uma relação de grande proximidade com os alunos. Ela acredita também que as escolas devem perder um estereótipo muito difundido: o de que o professor de biologia é aquele que mais reúne condições para atender mais de perto à demanda dos alunos com as questões da sexualidade. E na ausência deste, ultimamente o professor de educação física tem recebido este encargo.
Trabalhar a sexualidade na escola, ou melhor, aprender sexo na escola, não tem nenhuma relação com a especialização do professor. O necessário é que a pessoa encarregada deste ensino possa estabelecer uma relação de confiança com os alunos sem criar cumplicidades; ver se a pessoa consegue suspender seu juízo de valor quando conversa com os jovens; se é capaz de ouvir antes de falar, sempre mantendo a posição de assimetria com os alunos, requisito indispensável para que a angústia do jovem se expresse.
Além disto, a autora aponta que uma boa parceria da escola com os pais é fundamental, para o sucesso da educação sexual. Cabe à escola saber reconhecer que cada família tem seus valores, que são transmitidos para os filhos, buscando não causar desavenças entre pais e filhos com relação a esta questão.
E sempre ter consciência de que mesmo cumprindo o seu papel com responsabilidade e competência, a escola tem seus limites no trabalho de informar os alunos e auxiliá-los a terem seus próprios valores na vida sexual, sabendo respeitá-los com coerência.
Em relação à mídia no que se refere às informações sexuais, a autora acredita que dá para aproveitar muito pouco do que é exibido e produzido. E conclui sua pesquisa afirmando que os adultos que tem uma relação significativa com os jovens, entre eles os professores e demais profissionais da escola, podem dialogar sobre a sexualidade, esclarecer algumas dúvidas e, principalmente, permitir que eles queiram saber. Tudo isso desde que esses adultos queiram e se preparem para isso. O que não se pode é contribuir para que o jovem tenha a ilusão do saber. Saber tudo sobre sexo? Jamais!
A deseducação sexual em nossas escolas
Será que as idéias e as posições progressistas das professoras Guirado e Sayão, ainda são utopias em nosso ensino? Se os são por que o são? Diz Bernardi que ainda vivemos numa sociedade sexofóbica, na qual o sexo é vergonhoso, sujo e errado. E, infelizmente, nossas escolas ainda refletem esse pensamento conservador predominante. A educação como dirigida à livre evolução da personalidade e uma procura crítica dos comportamentos éticos é ainda teoria, esperando para ser de toda colocada em prática.
Seguindo este raciocínio, temos que a nossa educação, e também a nossa educação sexual, seguindo os velhos moldes conservadores que persistem em nossa sociedade e que a entende por "um processo que molda no aluno a maneira como prepara-lo para viver em harmonia com as regras codificadas da sociedade a qual está inserido." (Bernardi, 1977).
Nossas crianças são impedidas de conhecer-se, de tocar-se. A partir do momento em que isso acontece, ela passa a sofrer intervenções diretas da sociedade, através dos adultos, para que reprima estes seus atos, gestos, perguntas, curiosidades sobre o sexo. O sexo deixa de ser algo natural e essencial tanto quanto o ato de se alimentar e se lavar para ser algo extremamente obscuro, vergonhoso e até mesmo medonho.
Tudo isso está refletido na educação sexual. Na escola, não se fala de sexo, propriamente dito, pelo contrário, o sexo na grande maioria das escolas se torna muito semelhante a uma aula de botânica, na qual os assuntos como o prazer, são totalmente excluídos.
Para este autor "geralmente as lições ou os encontros dedicados à educação sexual percorrem dois caminhos, o da informação biológica e o do elenco de normas, preceitos morais, juízos sobre o que é lícito. (...) Explicar minuciosamente às crianças o ciclo da ovulação, a espermatogênese, a fecundação, o aninhamento do óvulo fecundado e seu sucessivo desenvolvimento, equivale a fornecer-lhes uma imagem da sexualidade humana não apenas atrozmente fastidiosa, mas também muito próxima àquela das funções reprodutivas dos animais e vegetais." (Bernardi, 1985, p.?)
Vemos então que a repressão torna-se o instrumento primário da educação sexual, quando essa deveria nos libertar da angústia de uma sexualidade frustrada e reprimida, valorizando seus pontos positivos. Pelo contrário, a educação sexual, como se tem hoje acaba por legitimizar todo o mistério, a angústia, o medo, e qualquer outro sentimento negativo que possa estar relacionado ao sexo. Temas como masturbação, orgasmo, e mesmo homossexualidade são excluídos do vocabulário escolar. Como conseqüência, temos o sexo como um bicho de sete cabeças.
Entretanto, como educadores, devemos estar atentos para a forma como lidamos como a educação sexual na escola porque todo e qualquer problema referente ao sexo não deriva da sexualidade, mas sim de sua negação. Se o sexo fosse tratado com respeito, clareza, e normalidade esse não seria um tema tão assustador e desconfortável tanto para quem fala quanto para quem ouve, seria apenas mais uma atividade natural do ser humano.





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